Portugal Colonial - Chegada do app chinês de IA DeepSeek pode favorecer a Europa

Chegada do app chinês de IA DeepSeek pode favorecer a Europa
Chegada do app chinês de IA DeepSeek pode favorecer a Europa / foto: Mladen ANTONOV - AFP/Arquivos

Chegada do app chinês de IA DeepSeek pode favorecer a Europa

O surgimento do DeepSeek, concorrente chinês do ChatGPT, com recursos limitados em comparação com as gigantes da inteligência artificial (IA) generativa, poderia constituir "uma boa notícia" para as start-up europeias, avaliam vários especialistas.

Tamanho do texto:

Frente aos 500 bilhões de dólares (R$ 2,9 trilhões) do projeto de IA "Stargate", anunciados na semana passada pelo presidente americano, Donald Trump, o sucesso do modelo do DeepSeek R1 tem "um lado quase tranquilizador para a Europa, que não tinha pensado necessariamente em investir tanto" nesta corrida frenética, avalia Nicolas Gaudemet, diretor de IA da empresa francesa Onepoint.

A start-up chinesa afirma, de fato, não ter gasto mais de 5,6 milhões de dólares (R$ 33 milhões) para desenvolver seu modelo com capacidades equivalentes às dos líderes americanos do setor, como a OpenAI, uma cifra irrisória em comparação com os bilhões investidos pelos grupos da Costa Oeste americana, particularmente em componentes de última geração.

Destinadas em grande parte a investimentos em centros de dados equipados com processadores de última geração, estas quantias consideráveis, fora do alcance da maioria dos atores europeus, pareciam até agora necessárias para garantir a competitividade.

Mas o DeepSeek demonstra ser possível propor modelos "mais eficientes e menos demandantes em GPU (chips gráficos), em energia e em dinheiro", afirma à AFP Laurent Daudet, diretor da LightOn, uma start-up especializada em modelos de IA de pequeno porte.

"Para inovar, não é preciso ter 500 bilhões de dólares", observa o cofundador da jovem empresa francesa, que também oferece uma plataforma de IA generativa desenhada para empresas.

- "Guerra de preços" -

A duas semanas de uma cúpula mundial sobre IA, a França busca se posicionar como a líder europeia do setor com joias como a Mistral AI, criada há menos de dois anos e já avaliada em quase 6 bilhões de euros (aproximadamente R$ 37 bilhões).

Assim como o DeepSeek, a start-up francesa apostou em modelos de código aberto (acesso livre ao código de programação) e também ficou conhecida por seus modelos de pequeno porte, que consomem menos energia e, portanto, são menos custosos que seus concorrentes.

A chegada de um novo competidor mostra que "a concorrência é muito forte, com uma guerra de preços" que se aproxima, avalia Nicolas Gaudemet.

Mas, "a boa notícia é que estes modelos são 'open source'", e podem ser reutilizados pelos provedores de modelos europeus para treinar seus próprios chatbots e "permanecer na corrida".

Para Neil Lawrence, professor de aprendizado de máquina ("machine learning") na Universidade de Cambridge, "é uma tragédia" que o DeepSeek não tenha surgido na Europa, frente à multiplicação de talentos em pesquisa e empreendimento de que dispõe o Velho Continente.

Mas, em sua avaliação, a "pequena mudança na receita" da IA aportada pela empresa chinesa "é muito animadora pra a Europa", e que haverá "outros DeepSeek" no futuro.

- Carta na manga -

Modelos de IA menos caros também poderiam significar mais ferramentas adaptadas caso a caso, ao invés de um modelo centralizado com recursos maciços.

"Há um futuro para modelos mais econômicos que são igualmente eficientes, especialmente para as necessidades das empresas", ressalta Laurent Daudet.

No entanto, alguns especialistas mencionaram a questão da proteção de dados pessoais e sensíveis: o DeepSeek, por exemplo, armazena os dados na China.

"Evidentemente, há uma carta a ser jogada pelas empresas europeias, que é a segurança, e o lado, 'seus dados permanecem na Europa e são tratados por gente que tem interesses na França e na Europa'", argumenta Nicolas Gaudemet.

Para o especialista, agora é preciso "encontrar a mistura adequada entre a segurança, o conhecimento das necessidades dos clientes, a capacidade matemática e de pesquisadores (...) e a relação custo-benefício".

Se o DeepSeek representa "um pequeno eletrochoque", também oferece à Europa "novas possibilidades. Talvez dependamos menos dos provedores de modelos americanos", conclui.

A.Magalhes--PC