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Este é o julgamento de 'toda uma família destruída', afirma um dos filhos de Gisèle Pelicot
David, um dos três filhos de Gisèle e Dominique Pelicot, afirmou nesta segunda-feira (18) que o julgamento que está sendo realizado na França sobre os estupros que sua mãe sofreu durante décadas, estando drogada pelo pai dele, é o julgamento de "toda uma família destruída".
"Para mim, é o julgamento de toda uma família destruída. É muito complicado explicar para seus filhos que não vão mais ver o avô", disse David, de 50 anos, perante o tribunal penal de Avignon, no sul da França.
O caso de Dominique Pelicot, de 71 anos, e outros 50 corréus, com idades entre 26 e 74 anos, gerou uma onda de indignação na França desde que foi aberto em 2 de setembro.
O acusado admitiu ter estuprado sua agora ex-mulher, Gisèle Pelicot, e recrutado dezenas de homens na internet para abusar dela entre 2011 e 2020, documentando meticulosamente os abusos com milhares de imagens encontradas pelos investigadores em discos rígidos.
"Minha família quer lutar e continuará fazendo isso, e acima de tudo esperamos que no futuro possamos apagar da nossa mente o homem que está à minha esquerda", declarou, referindo-se ao seu pai, Dominique Pelicot, sentado no banco dos réus. Ao longo de seu depoimento, se referiu a ele como "aquele senhor".
"O que espero deste julgamento é que as decisões que tomem estejam à altura do nosso sofrimento. Que os homens, esses homens atrás de mim [os corréus], esse homem no banco dos réus [seu pai], sejam punidos pelos horrores e atrocidades que cometeram contra minha mãe", acrescentou David Pelicot.
Em seguida, ele se dirigiu diretamente ao pai: "Se ainda te resta algo de humanidade, você me ouve? [Gostaria que] dissesse a verdade sobre o que fez com a minha irmã, que sofre todos os dias e sofrerá o resto da vida, porque acredito que você jamais dirá a verdade."
- "Ainda não entendo por que ele fez isso" -
Caroline Darian, também filha dos Pelicot e autora do livro "Et j'ai cessé de t'appeler papa" (Parei de te chamar de papai, em tradução livre), está convencida de que seu "progenitor", como agora se refere a ele, também a agrediu. Ela se considerou a "grande esquecida" deste julgamento, afirmou na segunda-feira.
"Gisèle foi estuprada sob submissão química, mas a única diferença entre ela e eu é a falta de provas no que me diz respeito. Para mim, isso é uma tragédia absoluta", declarou Caroline perante o tribunal.
Segundo a investigação, foram encontradas fotos dela e de duas noras de Dominique Pelicot em um computador, em alguns casos, quando as mulheres estavam nuas.
"Estou muito agradecida por minha mãe estar viva. Mas ainda não entendo por que ele fez isso", declarou Florian, a caçula dos três irmãos, sobre os atos cometidos por seu pai.
O processo midiático se tornou um símbolo do uso de drogas para cometer agressões sexuais, prática conhecida como submissão química, e reacendeu o debate sobre a questão do consentimento na França.
Alguns dos acusados afirmam que não sabiam que Dominique Pelicot administrava medicamentos para fazer sua esposa dormir e alegam que pensavam se tratar de um casal libertino, algo que a vítima negou em seu primeiro depoimento perante o tribunal.
O principal réu reiterou que os 50 homens julgados — um deles à revelia — sabiam que sua esposa estava drogada com fortes ansiolíticos. "E eles não podem dizer o contrário", assegurou Pelicot.
A.Seabra--PC