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Ofensiva rebelde ameaça cidade congolesa de Goma em meio a temores de escassez
Disparos continuam sendo ouvidos nesta terça-feira (28) em Goma, cidade no leste da República Democrática do Congo (RDC), atolada em combates entre o exército congolês e os rebeldes do M23, aliados de Ruanda.
Na capital Kinshasa, várias embaixadas foram atacadas por manifestantes que denunciam o conflito no leste do país. As embaixadas de Ruanda, França, Bélgica e Estados Unidos foram afetadas e fumaça foi vista saindo da representação francesa, observou um jornalista da AFP.
O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir mais tarde para discutir a situação no país africano.
O leste da RDC, na fronteira com Ruanda, está atolado em violência há décadas, desencadeada por rivalidades regionais, disputas étnicas e conflitos com grupos armados, exacerbados desde o genocídio de Ruanda em 1994.
Milicianos do M23, liderados por tutsis e apoiados por tropas ruandesas, entraram na cidade estratégica rica em minerais, lar de quase dois milhões de pessoas, metade delas deslocadas, na noite de domingo, após um avanço de várias semanas pela região.
Seus habitantes estão trancados em suas casas há quatro dias, sem água ou energia elétrica devido ao bombardeio das infraestruturas.
Apesar do som de disparos nas proximidades, alguns se aventuraram até um lago próximo em busca de água na manhã desta terça-feira, de acordo com correspondentes da AFP.
Dezenas de combatentes do M23 também foram vistos marchando pelas ruas principais de Goma, alguns com coletes à prova de balas e armas congolesas.
Alguns moradores relataram ter sido roubados por soldados ou milicianos congoleses. "Eles roubaram tudo de nós, nossos telefones, até nossos sapatos. Nós os vimos tirando suas roupas e jogando fora suas armas", disse Jospin Nyolemwaka, que fugiu de seu bairro.
"Estamos começando a sair, mas ontem houve saques. Vimos cadáveres na estrada", disse outro morador à AFP.
- Escassez de alimentos -
Nos últimos anos, o M23, um grupo predominantemente tutsi, conquistou grandes áreas de território no leste da RDC, alegando que luta para defender a população de sua etnia.
Embora disparos ainda pudessem ser ouvidos em Goma nesta terça-feira, a intensidade dos combates parecia ter diminuído.
Não ficou claro quais partes de Goma estavam sob o controle das forças congolesas ou do M23, que alegou ter tomado a cidade na noite de domingo.
Pelo menos 17 pessoas morreram e 367 ficaram feridas durante dois dias de conflitos, de acordo com relatos dos hospitais sobrecarregados da cidade.
"Nossas equipes cirúrgicas trabalham incansavelmente para lidar com o fluxo maciço de feridos", disse à AFP Myriam Favier, chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na província de Kivu do Norte.
A ofensiva também desencadeou uma crise humanitária, que forçou meio milhão de pessoas a deixar suas casas desde o início do ano, disse a agência da ONU para refugiados na segunda-feira.
Nesta terça, a ONU expressou preocupação com a escassez de alimentos em Goma e arredores depois que as atividades de assistência alimentar foram suspensas.
"As próximas 24 horas serão cruciais porque as pessoas começarão a ficar sem suprimentos e terão que ver o que podem encontrar para sobreviver", disse em Kinshasa Shelley Thakral, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PMA) na RDC.
O presidente congolês, Félix Tshisekedi, que ainda não falou desde o início da crise, deve fazer um discurso à nação nesta terça-feira à noite.
burx-cld/cpy/meb/zm/aa/fp
V.Dantas--PC