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Iraniana Narges Mohammadi, ganhadora do Nobel da Paz, prepara sua autobiografia
A iraniana Narges Mohammadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2023, planeja publicar sua autobiografia e está trabalhando em outro livro que descreve as condições de mulheres detidas como ela no Irã por crimes de opinião, disse ela à revista Elle.
Narges Mohammadi concedeu esta rara entrevista de forma remota, aproveitando uma liberdade provisória de três semanas por razões médicas, iniciada em 4 de dezembro.
"Terminei a minha autobiografia e pretendo publicá-la. Estou escrevendo outro livro sobre as agressões e o assédio sexual cometidos contra mulheres detidas no Irã. Espero que seja publicado em breve", declarou a ativista iraniana dos direitos humanos, respondendo em persa, por escrito e com mensagens de voz, às questões colocadas pela revista francesa.
"É verdade que o meu corpo está enfraquecido após três anos de detenção contínua sem permissões e repetidas negações de cuidados médicos que me afetaram gravemente, mas a minha mente é feita de aço", disse Mohammadi.
A vencedora do Prêmio Nobel da Paz esteve presa, entre outros lugares, na prisão de Evin, em Teerã, considerada muito rígida pelas organizações de direitos humanos.
"No pavilhão das mulheres somos setenta, de todas as origens, idades e sensibilidades políticas", entre elas "jornalistas, escritoras, intelectuais, pessoas perseguidas de diferentes religiões", explica.
"O isolamento está entre os instrumentos de tortura mais utilizados. É um local onde morrem prisioneiros e prisioneiras políticas. Pessoalmente, documentei casos de tortura e violência sexual grave contra as minhas companheiras de prisão", afirmou a ativista, de 52 anos.
"Para nós, prisioneiras políticas, é um desafio lutar para manter uma aparência de normalidade, porque significa mostrar aos nossos algozes que eles não serão capazes de nos atingir ou de nos quebrar", continuou, indicando que compartilha, em seu caso, uma cela com outras 13 detidas.
Narges Mohammadi destaca atos de resistência por parte das reclusas, como um recente protesto no pátio da prisão contra a sentença de morte de Pakhshan Azizi e Varisheh Moradi, duas ativistas dos direitos das mulheres curdas.
A ativista acrescenta que "cada declaração nos veículos de comunicação pode levar a novas acusações" e que, aproximadamente "todos os meses", enfrenta novos julgamentos e condenações.
Condenada e presa repetidamente ao longo dos últimos 25 anos pela sua luta contra o uso obrigatório do véu para as mulheres e contra a pena de morte, ela passou grande parte da última década na prisão.
Da ONU ao Comitê do Nobel, inúmeras vozes exigiram a sua libertação incondicional e permanente.
L.Henrique--PC