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Urnas fecham no Uruguai em 2º turno incerto
Os uruguaios votaram, neste domingo (24), para eleger seu próximo presidente em um segundo turno com resultado em aberto, que pode marcar a volta ao poder da esquerda do icônico ex-presidente José Mujica ou a continuidade da coalizão de centro direita após cinco anos de governo.
Yamandú Orsi, um professor de história de 57 anos, da opositora Frente Ampla, enfrenta Álvaro Delgado, um veterinário de 55 anos, do Partido Nacional, que lidera a aliança governista.
"Que seja o que for, que seja tudo de melhor para o país, que possamos continuar avançando, que possamos continuar crescendo, especialmente os jovens", disse à AFP Valentina Barreiro, fotógrafa de 32 anos, ao votar em Montevidéu.
O vencedor sucederá, em 1º de março, o presidente Luis Lacalle Pou, com um nível de aprovação perto de 50%, mas impedido constitucionalmente de disputar a reeleição.
Os centros de votação fecharam às 19h30 (mesmo horário em Brasília). A Corte Eleitoral espera ter o resultado oficial às 22h00, mas se for muito acirrado não seria possível determinar um vencedor na noite de domingo.
Orsi lidera todas as pesquisas, mas é seguido de perto por Delgado, com uma diferença que está dentro da margem de erro.
"É um cenário muito competitivo", disse à AFP o sociólogo Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum. Em 2019, Lacalle Pou venceu por apenas 37 mil votos.
Em 27 de outubro, Orsi obteve 43,9% dos votos, bem à frente de Delgado (26,7%), embora este último conte agora com o apoio de todos os partidos da coalizão no poder, que em conjunto obtiveram 47,7%.
- Sem mudança radical -
Os dois candidatos afirmaram no domingo que estão abertos a negociar com o outro bloco, algo que parece inevitável já que nenhum deles terá maioria parlamentar.
Após as eleições de outubro, a Frente Ampla ficou com 16 das 30 cadeiras no Senado, e a coalizão governante, com 49 das 99 cadeiras na Câmara dos Deputados.
"Será uma boa oportunidade para buscar acordos", disse Delgado, ex-secretário da Presidência de Lacalle Pou. "Se eu ganhar, amanhã pretendo convidar o candidato Orsi para tomar um mate", acrescentou.
"Todos concordamos com a necessidade de acordos", disse Orsi após votar.
Quem vencer, não há mudança de rumo à vista. Orsi prometeu "uma mudança segura que não será radical" e Delgado busca avançar no caminho atual.
Ambos afirmaram que impulsionarão o crescimento econômico, em recuperação após a desaceleração devido à pandemia e a uma seca histórica. Além disso, estão empenhados em reduzir o déficit fiscal e em combater o aumento da criminalidade vinculada ao tráfico de drogas.
- Custo de vida e segurança -
"Hoje estamos votando dois projetos diferentes", declarou Lacalle Pou após votação na cidade de Canelones, 50 quilômetros ao norte de Montevidéu. Mas garantiu uma transição "com a maior informação possível".
O Uruguai vai às urnas como a democracia mais sólida da América Latina, com alta renda per capita e menores níveis de pobreza e desigualdade frente ao resto da região.
A situação econômica e a criminalidade dominam as preocupações dos eleitores deste país agropecuário, com 3,4 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado.
"Para os trabalhadores, estes cinco anos não foram nada bons", disse à AFP Gustavo Maya, um distribuidor de botijões de gás de 34 anos, eleitor de Orsi.
"Ando todo dia na rua e o que me preocupa é a insegurança. Vejo muitos assaltos, cada vez mais homicídios, pouca polícia", queixou-se.
William Leal, um pedreiro de 38 anos, disse que votará em Delgado.
"Quero que este governo continue porque no setor da construção houve muito mais trabalho", disse. "O dinheiro rende mais. Embora continue caro, melhorou".
- Mujica: "Me interessa o destino dos jovens" -
Com Orsi, a Frente Ampla espera voltar ao governo, perdido em 2020 após três mandatos consecutivos, um deles com Mujica (2010-2015).
O ex-guerrilheiro de 89 anos, que se recupera de um câncer no esôfago, votou cedo em Montevidéu.
"Meu futuro mais próximo é o cemitério, mas me interessa o destino dos jovens, que quando tiverem a minha idade vão viver em um mundo muito diferente", disse, cercado por jornalistas.
Apesar da saúde frágil, Mujica teve uma participação ativa no final da campanha. Criticou a avareza de alguns políticos, as corporações e o presidente em fim de mandato Lacalle Pou. Também questionou o "consumismo abominável", e falou sobre seu legado em uma espécie de despedida que emocionou muitas pessoas.
Mais de 2,7 milhões de uruguaios estão habilitados a votar no segundo turno, no qual o vencedor será definido por uma maioria simples. No Uruguai, o voto é obrigatório e não existe o voto consular.
A.Magalhes--PC