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Crise política na Alemanha, que corre risco de antecipar eleições
A Alemanha entrou na noite desta quarta-feira (6) em uma grave crise política com o colapso do frágil governo de coalizão do social-democrata Olaf Scholz, o que abre as portas para eleições antecipadas no início de 2025.
A ruptura ocorre no pior momento para a maior economia europeia, que enfrenta uma grave crise industrial e está preocupada com as repercussões que o retorno de Donald Trump à Casa Branca poderá ter no comércio e na segurança.
No governo desde o final de 2021, a coalizão heterogênea de social-democratas, ecologistas e liberais desmoronou após a destituição do ministro das Finanças e líder do partido liberal FDP, Christian Lindner.
"Precisamos de um governo capaz de agir e que tenha força para tomar as decisões necessárias para o nosso país", argumentou o chefe do governo em um discurso solene.
Diante dos "ultimatos" de seu ministro das Finanças, defensor de uma rigorosa austeridade orçamentária, Scholz considerou que não havia "confiança suficiente para continuar a cooperação".
Os demais ministros do partido liberal anunciaram sua renúncia ao governo na noite desta quarta-feira, deixando o gabinete de Scholz sem maioria no Parlamento Federal, o Bundestag.
- Votação crucial em janeiro -
Enfraquecido, o líder social-democrata anunciou que em 15 de janeiro pedirá aos deputados que se pronunciem sobre a necessidade de convocar eleições antecipadas.
Essa crise é o desfecho de meses de disputas entre os três partidos do governo sobre a política econômica a seguir, intensificadas durante a preparação do orçamento de 2025, que deve ser finalizado em novembro.
Se os deputados do Bundestag quiserem que as eleições legislativas ocorram antes da data prevista, em setembro de 2025, elas poderiam ser organizadas "no máximo até o final de março", indicou Scholz.
Para o ministro da Economia e Clima, o ecologista Robert Habeck, não há dúvidas: seu partido defenderá a necessidade de "eleições antecipadas".
O rompimento entre Scholz e Lindner ficou ainda mais evidente nesta quarta-feira. O chefe do governo acusou seu ministro de "trair frequentemente sua confiança" e criticou um comportamento "egoísta".
O agora ex-ministro, defensor da austeridade orçamentária, respondeu imediatamente e acusou Scholz de ter arrastado o país "para uma fase de incerteza" com essa "ruptura calculada da coalizão".
"Não é um bom dia para a Alemanha, nem para a Europa", lamentou a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, outra figura do partido ecologista.
A crise explode na véspera de uma cúpula da União Europeia em Budapeste, capital da Hungria, onde o líder alemão deverá tranquilizar os parceiros e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, já que Berlim é o segundo maior apoiador militar de Kiev.
Rupturas em coalizões de governo não são comuns na Alemanha. Na verdade, Scholz desejava manter a coalizão até as próximas eleições legislativas programadas para 28 de setembro de 2025.
Mas as disputas políticas sobre economia e imigração e os conflitos pessoais vêm minando seu governo há meses.
- A sombra de Trump -
A saída dos liberais deixa o governo sem maioria parlamentar, embora Scholz confie em poder resistir alguns meses em minoria para aprovar algumas leis "que não podem ser adiadas".
Entre elas, ele mencionou um aumento de renda para os trabalhadores a partir de janeiro, a implementação das novas regras de asilo da UE e medidas imediatas de apoio à indústria alemã.
Outro desafio são os orçamentos federais de 2025, que dificilmente poderão ser aprovados sem maioria, o que obrigaria a uma gestão provisória a partir de janeiro.
Scholz declarou que proporá ao líder da oposição conservadora da CDU-CSU, Friedrich Merz, "trabalhar juntos de maneira construtiva em questões cruciais" para o país, como economia e defesa.
O líder social-democrata esperava que a eleição de Trump, com sua política protecionista e suas frequentes confrontações diplomáticas, levasse a coalizão a se unir.
Mas ocorreu o contrário, pois os liberais do FDP consideraram que as eleições presidenciais nos Estados Unidos tornam ainda mais urgente uma mudança de rumo econômico na Alemanha.
As pesquisas indicam que, em caso de eleições, a oposição conservadora venceria com mais de 30% dos votos, e que seu líder, Friedrich Merz, seria o favorito para assumir o governo.
No entanto, ele teria dificuldades para formar uma maioria no Bundestag, onde, segundo as mesmas pesquisas, a extrema direita do Alternativa para a Alemanha (AfD) ocuparia a segunda maior bancada.
F.Santana--PC