Portugal Colonial - Forças Armadas da Venezuela: defensoras ou repressoras da eleição presidencial?

Forças Armadas da Venezuela: defensoras ou repressoras da eleição presidencial?
Forças Armadas da Venezuela: defensoras ou repressoras da eleição presidencial? / foto: Handout - Venezuelan Presidency/AFP/Arquivos

Forças Armadas da Venezuela: defensoras ou repressoras da eleição presidencial?

"Chávez vive!", exclamam soldados venezuelanos em sua saudação oficial. Batizada como "bolivariana" pelo ex-presidente Hugo Chávez, as Forças Armadas da Venezuela têm sido um pilar do chavismo desde que esta corrente chegou ao poder há 25 anos, mas a oposição espera que os militares possam desempenhar um papel determinante nas eleições de domingo (28).

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Chávez, um militar carismático que conhecia intimamente as Forças Armadas, promoveu uma reforma constitucional em 1999 que deu o voto aos militares e, paralelamente, um imenso poder com posições-chave em instituições estatais, incluindo a vital indústria petrolífera.

Após a morte do líder socialista, o seu sucessor Nicolás Maduro, que busca a reeleição, aumentou ainda mais sua influência.

"A Força Armada Nacional Bolivariana me apoia, é chavista, é bolivariana, é revolucionária!", reiterou ele esta semana.

Seu principal adversário, Edmundo González Urrutia, representante da líder da oposição inabilitada María Corina Machado, pediu ao poder militar que "respeite e faça respeitar sua vontade soberana", em referência ao voto dos eleitores, em um momento em que a maioria das pesquisas está a seu favor.

"Este bastão de comando jamais cairá nas mãos de um oligarca, de um fantoche, de um traidor. Eu juro! Jamais! A vitória nos pertence!", afirmou Maduro em 5 de julho durante o desfile pelo Dia da Independência.

As Forças Armadas venezuelanas contavam com 343 mil integrantes em 2020, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), um tamanho semelhante ao do México (341 mil), e apenas superado na América Latina pela Colômbia (428 mil) e Brasil (762 mil).

Aliado dos Estados Unidos, que foi seu principal fornecedor de armas, por décadas, com o chavismo, as Forças Armadas venezuelanas passaram a se relacionar principalmente com a Rússia, que lhes fornece aviões Sukhoi e fuzis Kalashnikov. No início de julho, dois navios militares russos visitaram o país.

- "Não tem liderança" -

Além das armas, os militares controlam empresas de mineração, petróleo e distribuição de alimentos, bem como as alfândegas e 12 dos 34 ministérios, incluindo pastas importantes como Petróleo, Energia, Defesa, Interior e Comércio. A oposição e os especialistas denunciam redes de corrupção que enriqueceram muitos oficiais.

"Maduro não tem liderança militar para se sustentar como comandante em chefe. Ele conquista as Forças Armadas com privilégios, promoções e criação de novos cargos", declarou à AFP o general reformado Antonio Rivero, crítico do chavismo, exilado nos Estados Unidos.

A instituição tem sido monolítica em seu apoio ao presidente, sobretudo quando Estados Unidos, União Europeia e a maioria dos países latino-americanos ignoraram sua reeleição em 2018, considerando-a fraudulenta.

"Militares de alta patente se tornaram incrivelmente poderosos. Eles têm muito a perder se Maduro cair", analisa Rebecca Hanson, professora do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Flórida.

Quase 50 oficiais, na ativa e reformados, aparecem na lista de sanções dos Estados Unidos.

Os primeiros foram incluídos em 2008 por supostas ligações com a guerrilha colombiana. Outros foram posteriormente acusados de tráfico de drogas e, mais recentemente, de violações dos direitos humanos.

Em contrapartida, organizações de defesa dos direitos humanos denunciam a prisão de dezenas de militares (149 em 1º de julho) por motivação política e a morte sob custódia de três deles.

- "Caixa preta" -

Para Renata Segura, do centro de pesquisas internacional Crisis Group, as Forças Armadas são como "a caixa preta mais desconhecida da Venezuela".

"É um mundo muito hermético", mas se a oposição vencer, "será um ator decisivo, seja para pressionar o governo a aceitar o resultado, seja para sair e reprimir se houver protestos", disse à AFP.

As Forças Armadas são "a instituição que pode garantir uma transição", afirma um consultor político sob condição de anonimato e que encara estas eleições como a maior oportunidade de vitória da oposição venezuelana até agora.

Em 25 anos de chavismo, a oposição ganhou apenas duas eleições nacionais: em 2007, quando um referendo para reformar a Constituição foi rejeitado; e em 2015, quando alcançou maioria absoluta no Parlamento.

V.Fontes--PC