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França ante incerto resultado eleitoral: bloqueio, coabitação ou renúncia
O presidente Emmanuel Macron fez uma "aposta arriscada", segundo os analistas, com o inesperado adiantamento das eleições na França, que pode levar a um bloqueio institucional, ao compartilhar o poder com um governo de outra ideologia política ou até mesmo à sua renúncia.
A seguir, alguns dos cenários possíveis após as eleições legislativas, previstas para 30 de junho e 7 de julho.
- Bloqueio institucional -
Macron antecipou as legislativas, previstas inicialmente para 2027, a fim de "esclarecer" o panorama político, em virtude da vitória do ultradireitista Reagrupamento Nacional (RN) nas eleições europeias de 9 de junho na França.
Após as últimas eleições na Assembleia Nacional (Câmara Baixa) em 2022, Macron não possuía maioria absoluta e o espectro político se dividiu em três blocos: a aliança governista de centro-direita, a oposição formada por partidos de esquerda e a extrema direita.
Isso fez com que Macron fosse obrigado a costurar acordos com o partido de direita Os Republicanos (LR) para levar adiante suas grandes reformas como a migratória e a previdenciária, mas a antecipação das eleições implodiu esta formação.
As pesquisas projetam um novo cenário de três blocos, mas reconfigurado: o RN e seus aliados venceriam com 36% dos votos, seguido pela Nova Frente Popular, coalizão de esquerda, com 29%, e da aliança de Macron, com 19,5%.
O resultado após o segundo turno, em 7 de julho, é, no entanto, incerto devido ao próprio sistema eleitoral: os 577 deputados são eleitos em círculos eleitorais não nominais, com sistema majoritário em dois turnos.
Caso se repita uma situação sem maioria absoluta para nenhum dos blocos, os partidos deverão realizar alianças parlamentares incomuns na França ou tentar governar, sob o risco de cair em uma moção de censura pelo restante dos partidos.
Ao adiantar as eleições, Macron não pode dissolver a Assembleia mais uma vez em até um ano.
Estuda-se a possibilidade de um governo tecnocrático, como o de Mario Draghi na Itália (2021-2022), para evitar um bloqueio institucional, segundo um dos aliados de Macron.
- Coabitação -
O mandato do presidente francês termina em 2027, por isso em caso de vitória de um partido ou aliança opositora com maioria absoluta, faria com que Macron tivesse que compartilhar o poder com um governo de outra ideologia política.
Desde 1958, dois presidentes tiveram "coabitações" durante parte de seus mandatos: o socialista François Mitterrand (1981-1995) com dois governos conservadores e o conservador Jaques Chirac (1995-2007) com um socialista.
Os analistas não descartam uma eventual maioria absoluta do RN, que abriria a porta para uma coabitação entre Macron e o jovem líder ultradireitista, Jordan Bardella, de 28 anos.
- Renúncia? -
Em caso de novo revés para a aliança de Macron, após o das europeias, o RN poderia recrudescer seus pedidos pela renúncia do presidente.
A líder da formação ultradireitista, Marine Le Pen, já reiterou, nos últimos dias, que seria a única solução "para poder sair de uma crise política".
"Esse presidente da República, se tem medo do caos, por que não renuncia?", se perguntou a eurodeputada esquerdista Manon Aubry.
Em uma carta aos franceses publicada na imprensa regional, Macron, cuja popularidade caiu ainda mais com a antecipação das eleições, prometeu ficar no poder "até maio de 2027".
G.Machado--PC