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Comandantes militares bolivianos detidos por tentativa de golpe de Estado
Forças bolivianas detiveram na quarta-feira (26) dois comandantes militares por uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luis Arce, pouco depois que militares insurgentes cercaram por horas a sede do governo e tentaram derrubar uma de suas portas.
Ao final de um dia frenético, o general Juan José Zúñiga foi preso nos arredores de um quartel militar de La Paz e conduzido a um veículo policial sob acusações de terrorismo e levante armado, segundo a promotoria.
"Está detido, meu general!", afirmou o vice-ministro de Governo (Interior), Jhonny Aguilera, segundo imagens da televisão estatal.
Algumas horas depois, o ministro de Governo (Interior), Eduardo del Castillo, anunciou a detenção do comandante da Marinha boliviana, Juan Arnez Salvador, como o outro responsável pela tentativa de golpe.
Zúñiga liderou os militares que tentaram invadir o palácio presidencial, no centro de La Paz. Seus homens usaram gás lacrimogêneo contra as pessoas que tentavam se aproximar do edifício.
O oficial entrou caminhando pela mesma porta que um dos blindados militares tentou derrubar. Pouco depois, saiu pelo mesmo local.
"Estamos diante de uma tentativa de golpe de Estado por militares que estão manchando o uniforme", disse Arce ao empossar uma nova cúpula das Forças Armadas no palácio, que naquele momento estava sendo cercado pelas tropas de Zúñiga.
Após a retirada das tropas, o presidente apareceu em uma varanda para se dirigir a centenas de apoiadores: "Ninguém pode nos tirar a democracia que conquistamos (...) Temos certeza: vamos continuar e vamos seguir trabalhando".
Tanto o governo quanto o ex-presidente Evo Morales, ex-aliado e agora rival político de Arce, haviam convocado mobilizações diante do levante militar.
Em suas redes sociais, o ex-chefe de Estado boliviano suspendeu o chamado após "ter sido retomada a calma na sede do governo".
- Disputa política de fundo -
Desde terça-feira, circulavam rumores sobre a provável destituição de Zúñiga, que comandava o Exército desde 2022.
O oficial havia expressado sua firme oposição ao eventual retorno ao poder de Morales, que disputa com Arce a liderança do partido oficialista, o Movimento Ao Socialismo (MAS), para as eleições presidenciais de 2025.
Em uma entrevista na segunda-feira a um canal de televisão, ele chegou a garantir que prenderia Morales se o ex-mandatário insistisse em se candidatar à presidência no próximo ano.
Daí a surpresa causada por sua tentativa de golpe contra Arce.
No momento de sua prisão, o general disse à imprensa que o presidente lhe havia pedido no domingo "preparar algo" para levantar sua popularidade.
Segundo Zúñiga, Arce argumentou que "a situação está muito ferrada" e que era preciso uma ação que ajudasse a aumentar sua popularidade.
Arce e Morales protagonizam uma intensa disputa política há alguns anos.
Amparado nas reformas constitucionais que ele mesmo promoveu, Morales ocupou a presidência entre 2006 e 2019, quando foi forçado a renunciar, acuado pela crise que estourou devido a uma suposta fraude eleitoral para obter um quarto mandato.
No final do ano passado, a Corte Constitucional inabilitou Morales para ser novamente candidato, o que o ex-presidente interpretou como uma manobra contra ele, orquestrada por seu antigo ministro da Economia.
A ala governamental do MAS proclamou Arce como seu candidato para 2025. Outro setor apoiou a aspiração de Morales, que ainda não desistiu de sua candidatura apesar da decisão judicial.
Arce, entretanto, ainda não proclamou sua candidatura à reeleição.
- Reação internacional -
Diversos governos e organizações se pronunciaram durante o dia.
Os Estados Unidos pediram "calma" na Bolívia e afirmaram que estão "monitorando de perto a situação".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a todos os participantes uma proteção da ordem constitucional e a preservação do clima de paz, informou seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) alertou que "não tolerará qualquer forma de quebra da ordem constitucional" na Bolívia.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, imediatamente denunciou um "golpe de Estado". "Presidente Lucho Arce, convoque o povo, apenas o povo salva o povo. Alerta, Bolívia!", afirmou.
V.Fontes--PC