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Eleições nos EUA entram em território desconhecido após veredicto contra Trump
Abalada pelo veredicto histórico que considerou culpado o ex-presidente Donald Trump, a campanha presidencial dos Estados Unidos entra, nesta sexta-feira (31), em território desconhecido com todos os olhares voltados para a forma como os seus protagonistas irão superar os diferentes obstáculos.
O republicano, de 77 anos, imediatamente se jogou no ringue em modo de campanha: "Sou um prisioneiro político!", anunciou depois de ser considerado culpado por um júri em Nova York de 34 acusações de falsificação de documentos contábeis para ocultar um pagamento destinado a silenciar a ex-atriz de filmes adultos Stormy Daniels.
Além do julgamento em Nova York, Trump enfrenta outros três processos penais com acusações mais graves relacionadas com as suas tentativas de reverter o resultado da eleição que perdeu para Joe Biden em 2020 e o tratamento de documentos confidenciais que levou para casa depois de deixar a Casa Branca.
Mas não se espera que estes casos avancem para a fase de julgamento antes das eleições de novembro.
O que para qualquer político significaria a sepultura, Trump transformou em uma medalha de honra, comparando-se a presos políticos históricos como Nelson Mandela e usando estes escândalos para reforçar, junto dos seus apoiadores, a teoria da conspiração segundo a qual existe um "Estado profundo" que busca restringir sua liberdade.
Biden, por outro lado, tentou evitar que os problemas judiciais de Trump se tornassem um assunto de campanha. E como presidente evita dar munição aos republicanos que o acusam de intervir no sistema judicial. Agora ele terá de decidir se a condenação do magnata muda o jogo.
A campanha do democrata afirmou em comunicado que a decisão contra o ex-presidente mostra que "ninguém está acima da lei". Acrescentou, no entanto, que o foco agora deve estar nas eleições, porque "a ameaça que Trump representa para a democracia nunca foi tão grande".
Biden não comentou o veredicto em Nova York.
Nesta sexta-feira o presidente democrata terá diversas oportunidades para falar à imprensa, ao longo de uma agenda intensa que inclui um diálogo com o primeiro-ministro belga e uma celebração com a equipe de futebol americano campeã do Super Bowl, o Kansas City Chiefs.
- Trump marca a história -
Trump se tornou o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos condenado por um crime. E estabeleceria outro recorde se vencer as eleições de 5 de novembro e substituir Biden na Casa Branca.
O júri o considerou culpado de falsificar registros contábeis para encobrir um pagamento de US$ 130 mil (R$ 675 mil, na cotação atual) e impedir que a ex-atriz Daniels tornasse público um suposto encontro sexual em 2006 – que ele nega – que poderia ter prejudicado sua campanha presidencial em 2016.
Os promotores expuseram com sucesso que o encobrimento ilegal do pagamento fazia parte de um crime mais amplo para impedir que os eleitores soubessem do comportamento de Trump pouco antes de ele ganhar eleição contra Hillary Clinton.
O republicano, que foi libertado sem fiança após a audiência, pode ser condenado a quatro anos de prisão por cada acusação, mas é mais provável que receba liberdade condicional por não ter antecedentes criminais.
Mesmo assim, não está impedido de continuar a sua campanha eleitoral, inclusive no caso improvável de ir para a prisão.
O juiz de instrução Juan Merchan proferirá a sentença em 11 de julho, dias antes da Convenção Nacional Republicana na qual Trump receberá a nomeação formal do partido.
Robert F. Kennedy, um candidato independente, disse que a condenação de Trump será um "tiro pela culatra" para os democratas porque aumentará a popularidade do republicano.
Mas o analista político Keith Gaddie, professor da Texas Christian University, afirma que o impacto político deste processo histórico ainda não está definido.
"Provavelmente não mudará muitos votos, mas em alguns estados específicos onde o voto é pendular", o que significa que se inclina para um candidato ou outro dependendo da eleição, "isso pode ter importância nas margens", explicou.
"Em disputas particularmente acirradas, as coisas podem mudar de uma forma ou de outra", acrescentou Gaddie.
S.Pimentel--PC