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ONU encerra reunião sobre crise Venezuela-Guiana sem declaração
O Conselho de Segurança da ONU debateu nesta sexta-feira (8) em caráter de urgência, a controvérsia entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo, território rico em petróleo que os dois países disputam há mais de um século e que preocupa a comunidade internacional.
A reunião, convocada a pedido da Guiana, foi realizada a portas fechadas e terminou sem declarações ou comunicado. Georgetown alegou que as medidas mais recentes tomadas por Caracas sobre o Essequibo "ameaçam a paz e a segurança internacionais", que são competência dessa instância da ONU.
As delegações deixaram a sala com rosas nas mãos, oferecidas pelo Equador, que preside o Conselho em dezembro.
Tanto Caracas quanto Georgetown se acusam mutuamente de incorrer em "provocações" em meio à disputa. A tensão se intensificou depois que a Venezuela realizou, no último dia 3, um referendo consultivo no qual mais de 95% dos participantes aprovaram a criação de uma província venezuelana em Essequibo, um território que representa dois terços da Guiana, e dar nacionalidade venezuelana aos 125.000 habitantes da zona em disputa.
A controvérsia vem se aprofundando desde 2015, quando a gigante americana ExxonMobil descobriu reservas petroleiras naquela região. Após a consulta, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou planos de conceder licenças para extrair petróleo bruto em águas disputadas.
"A Guiana e a ExxonMobil terão que se sentar conosco cara a cara, mais cedo ou mais tarde”, disse Maduro hoje, durante um ato em frente ao palácio presidencial de Miraflores, onde mostrou um mapa da Venezuela que incluía o Essequibo como território oficial, e não como uma área reivindicada, como costumava ser representado.
- Disputa centenária -
"A Guiana internacionalizou o conflito no momento em que começou a incorporar e atrair capital estrangeiro por meio da presença de petroleiras transnacionais", explicou Josmar Fernández, especialista em resolução de conflitos e delimitação de áreas marinhas.
O Brasil reforçou nesta semana a presença militar em suas fronteiras com Guiana e Venezuela, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma advertência. "Uma coisa que não queremos aqui na América do Sul é guerra, nós não precisamos de guerra, não precisamos de conflito", disse Lula, que propôs a mediação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na disputa.
Os Estados Unidos anunciaram a realização de exercícios militares na quarta-feira em Guiana, uma "provocação infeliz", segundo o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino.
A Venezuela já havia acusado o presidente da Guiana, Irfaan Ali, a quem classificou como "escravo" da Exxon, de dar "sinal verde" para que os Estados Unidos estabelecessem bases no território.
A Rússia, um dos principais aliados de Maduro, pediu um "espírito de boa vizinhança" entre as partes para a resolução do conflito pacificamente, na mesma linha da cúpula do Mercosul reunida no Rio de Janeiro.
Em uma primeira aproximação entre os dois governos, os chanceleres de Venezuela, Yván Gil, e Guiana, Hugh Todd, concordaram na quarta-feira em manter "canais de comunicação" abertos.
- Desvio da atenção -
Para analistas, o referendo e o aumento da retórica nacionalista são uma tentativa de desviar a atenção sobre o chamado à realização de eleições livres na Venezuela no ano que vem.
O chavismo já acusou vários líderes da oposição de traição à pátria por se manifestarem contra o referendo. O Ministério Público anunciou a prisão de um americano e de um opositor por suposta "conspiração" com a ExxonMobil na disputa. Outros 14 mandados de prisão foram emitidos contra outros líderes, a maioria fora do país.
Ferreira--PC