Portugal Colonial - Trégua em Gaza e libertação de reféns adiadas para sexta-feira

Trégua em Gaza e libertação de reféns adiadas para sexta-feira
Trégua em Gaza e libertação de reféns adiadas para sexta-feira / foto: SAID KHATIB - AFP

Trégua em Gaza e libertação de reféns adiadas para sexta-feira

O acordo de trégua entre Israel e Hamas, que inclui a troca de 50 reféns sequestrados pelo grupo islamista por 150 presos palestinos, não entrará em vigor antes de sexta-feira (24), anunciaram nesta quinta-feira fontes dos dois lados.

Tamanho do texto:

O Catar, que atua como mediador no conflito, havia anunciado na quarta-feira uma trégua de quatro dias, acompanhada de uma troca de reféns mantidos em Gaza por presos palestinos detidos em Israel.

A imprensa local chegou a afirmar que a trégua começaria às 8H00 GMT (5H00 de Brasília) e uma fonte do Hamas disse que esperava uma "primeira troca de 10 reféns por 30 prisioneiros nesta quinta-feira".

A comunidade internacional recebeu a notícia do acordo com otimismo, por considerá-lo um primeiro passo para um cessar-fogo duradouro.

Mas o diretor do Conselho Nacional de Segurança israelense, Tzachi Hanegbi, anunciou durante a noite que a libertação dos reféns não acontecerá antes de sexta-feira e que as negociações continuam.

Uma fonte palestina que pediu anonimato afirmou à AFP que as discussões se encontravam estagnadas na questão dos "nomes dos reféns israelenses e dor termos de entrega".

- Bombardeios em Khan Yunes -

O acordo foi anunciado após quase sete semanas de uma guerra desencadeada por um ataque, em 7 de outubro, do Hamas em território israelense que deixou 1.200 mortos, a maioria civis.

Além disso, 240 pessoas foram sequestradas no dia do ataque do movimento islamista palestino e levadas para a Faixa de Gaza.

Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva contra Gaza que, segundo o Hamas, deixou mais de 14.000 mortos no território palestino, incluindo mais de 5.800 crianças.

Os combates prosseguiram durante toda a noite no pequeno território de 360 quilômetros quadrados, sobre o qual Israel impõe desde 9 de outubro um "cerco total", cortando o fornecimento de água, comida, energia elétrica e combustível.

Durante a madrugada de quinta-feira, a agência palestina Wafa relatou bombardeios israelenses que deixaram "dezenas" de mortos em diferentes setores de Gaza.

A Jihad Islâmica Palestina, que participa nos combates, citou confrontos no coração da Cidade de Gaza, no norte da Faixa. No sul, os ataques atingiram a localidade de Khan Yunes.

Segundo os correspondentes da AFP em Rafah, os ataques, embora tenham acontecido a vários quilômetros de distância, provocaram tremores nas casas da cidade fronteiriça com o Egito.

Dezenas de pessoas não identificadas que morreram em hospitais do norte do território foram enterradas na quarta-feira em uma vala comum em um cemitério de Khan Yunes.

O diretor do Hospital Al Shifa, o maior de Gaza, foi detido ao lado de outros médicos, segundo um funcionário do hospital.

O Exército israelense efetua uma operação no hospital, em busca de instalações militares do Hamas.

- "Uma decisão difícil" -

O governo israelense aceitou o acordo de trégua, apesar da oposição de algumas autoridades, como por exemplo o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir (extrema-direita), que citou um "erro histórico".

"Cidadãos de Israel, muitas vezes tenho de optar entre uma decisão difícil e outra ainda mais difícil, e este é particularmente o caso dos reféns", disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O presidente do Irã, Ebrahim Raissi, que apoia o Hamas e cujo país não reconhece Israel, afirmou que "o cessar-fogo temporário é uma grande vitória para o movimento islamista".

O acordo, mediado por Catar, Estados Unidos e Egito, deve proporcionar um alívio para a população e facilitar a entrada de ajuda humanitária, que tem chegado de forma limitada em caminhões procedentes do Egito

Ao revelar os detalhes do acordo, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari, explicou à AFP que "a cada dia, um número de reféns será liberado (...) até atingir 50 no quarto dia" de trégua.

Israel divulgou uma lista de 300 prisioneiros palestinos que podem ser libertados: 33 mulheres, 123 adolescentes menores de idade e 144 jovens com cerca de 18 anos. Entre eles, 49 membros do Hamas.

As autoridades israelenses explicaram que as trocas podem continuar se o cessar-fogo for prolongado, chegando a um total de 100 reféns e 300 prisioneiros palestinos.

A principal associação israelense de famílias de sequestrados do Hamas (o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas), afirmou que está "muito feliz" com o anúncio do acordo para uma "libertação parcial" de reféns, mas admitiu que não sabe "quem será libertado nem quando".

"Isto me dá esperança de que minhas filhas voltem", declarou Maayan Zin, mãe de duas meninas sequestradas em Gaza.

- Trégua insuficiente -

O Catar indicou que a pausa humanitária permitirá uma maior entrada de "comboios humanitários e de ajuda, incluindo combustível".

Entre 200 e 300 caminhões entrarão em Gaza, oito deles com combustível e gás, segundo Taher al Nunu, funcionário do Hamas.

A ONU considerou o acordo um "passo importante", mas observou que "ainda há muito a ser feito".

Várias ONGs internacionais afirmaram que o cessar-fogo não será suficiente para que a ajuda necessária chegue, além de "não ser suficiente em termos de direitos humanos".

Apesar do acordo, Israel afirmou que continuará a guerra para "eliminar o Hamas e garantir que não haja ameaça ao Estado de Israel vinda de Gaza".

"Confirmamos que nossos dedos permanecerão no gatilho", alertou por sua vez o movimento islamista, classificado como organização terrorista por Estados Unidos e União Europeia.

"Falam de trégua, mas... que trégua? Uma trégua com feridos, mortos e casas destruídas? Não queremos trégua se não pudermos voltar para nossas casas, não queremos trégua por um pouco de comida", afirmou Maysara al Sabbagh, refugiado em Khan Yunes.

A guerra também provoca o temor de um conflito regional, em particular entre Israel e o grupo libanês Hezbollah e os rebeldes huthis do Iêmen, em suas fronteiras norte e sul, respectivamente.

P.Serra--PC