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Ultradireitista Javier Milei se elege presidente da Argentina
O economista libertário e ultradireitista Javier Milei venceu, neste domingo (19), o segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, uma vitória contundente que gera incertezas neste país mergulhado em sua pior crise econômica em duas décadas.
Milei obteve 55% dos votos contra 44% para o ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, segundo os resultados parciais oficiais.
"Hoje começa a reconstrução da Argentina. O modelo da decadência chegou ao fim. Não há volta atrás. Chega do modelo empobrecedor da casta, hoje abraçamos a liberdade para voltarmos a ser uma potência mundial", disse Milei em seu primeiro discurso para uma multidão entusiasmada.
Com uma inflação de 143% ao ano e 40% da população na pobreza, os argentinos preferiram as promessas de mudança e o discurso contra a classe política do candidato antissistema Milei, um economista de 53 anos.
"Estou muito contente. Acho que estávamos vivendo em uma ditadura disfarçada de democracia, onde não se podia escolher. Quero um país livre", disse à AFP Sonia dos Santos, professora de 36 anos, que comemorava, eufórica, a vitória de Milei.
Milhares de pessoas se deslocaram para o Obelisco de Buenos Aires para comemorar a vitória de Milei com bandeiras amarelas e imagens de leão, símbolo do presidente eleito e de seu partido, A Liberdade Avança.
A cientista política Laura Goyburu considerou que a vitória de Milei representa "o início de um novo ciclo político argentino".
"É bastante difícil antecipar como vão se reconfigurar as alianças nos próximos meses porque o que aconteceu hoje foi um terremoto, especialmente para o peronismo kirchnerista", apontou.
A Argentina é governada desde 2003 pelo peronismo de centro esquerda de Néstor e Cristina Kirchner, salvo por um intervalo de quatro anos de governo do direitista Mauricio Macri (2015-2019).
Diante de Milei, a multidão cantou "Cristina vai ser presa", em alusão à condenação, no ano passado, da ex-presidente a seis anos de prisão por corrupção.
Kirchner não pode ser presa porque tem imunidade por ser vice-presidente e presidente do Senado, mas vai perder esta condição em 10 de dezembro, quando Milei for empossado.
Em seu discurso, Milei agradeceu o apoio que recebeu no segundo turno de Macri e da ex-candidata Patricia Bullrich, do Juntos pela Mudança, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno eleitoral, em 22 de outubro.
O índice de participação no pleito foi de 76% em um universo de 35,8 milhões de eleitores.
- Dolarização? -
A Argentina enfrenta a pior conjuntura econômica nas últimas duas décadas e Milei planeja enfrentar a crise de imediato.
"Não há espaço para o gradualismo, não há espaço para a tibieza, nem para meias-tintas", afirmou. "Temos problemas monumentais: a inflação, a estagnação, a falta de emprego genuíno, a insegurança, a pobreza e a indigência. Problemas que só têm solução se voltarmos a abraçar as ideias da liberdade", disse em seu discurso.
Para recuperar a terceira maior economia da América Latina, Milei propõe medidas drásticas como a dolarização e o fechamento do Banco Central, para acabar com a inflação e a emissão de moeda.
"Acho que vai aproveitar os primeiros meses para fazer as reformas que havia proposto. Muito provavelmente, tentará tomar muitas decisões nos próximos meses", avaliou Goyburu.
Milei, que sempre trabalhou no setor privado, criou seu partido em 2021, quando foi eleito deputado.
Embora tenha tido uma votação expressiva nas eleições parlamentares parciais de outubro, seu partido, A Liberdade Avança, tem apenas sete dos 72 senadores e 38 dos 257 deputados.
Esse acordo contempla um compromisso de reduzir o déficit fiscal para 0,9% do PIB em 2024, o que Milei considera insuficiente.
- Choro -
No comando de campanha de Massa, a tristeza tomou conta dos militantes, muitos com lágrimas nos olhos.
Camila Velaron, de 20 anos, foi uma das apoiadoras peronistas que caiu no choro. "Vamos voltar em quatro anos com tudo feito merda e reconstruindo os pedaços do país que ele vai deixar", disse a jovem, que juntamente com um grupo de amigas vestia uma camiseta com o lema "Todes unides venceremos", em alusão aos direitos coletivos feministas e LGBT.
Milei nega que exista uma brecha salarial entre homens e mulheres e rejeita o consenso de 30.000 desaparecidos na última ditadura (1976-1983), estabelecido por organizações de defesa dos direitos humanos. Ele estima que o número real seja de menos de um terço.
Além disso, afirma que as mudanças climáticas não são causadas pelas atividades humanas.
H.Portela--PC