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Violência no Sudão se aproxima do 'mal absoluto', denuncia ONU
Após sete meses de guerra e a recente intensificação dos combates entre o Exército e os paramilitares, a violência no Sudão se assemelha ao "mal absoluto", alertou, nesta sexta-feira (10), uma alta funcionária da ONU, particularmente preocupada com a situação na região de Darfur.
"Continuamos dizendo que a situação é horrível e sombria. Mas, francamente, nos faltam palavras para descrever os horrores que estão acontecendo no Sudão", disse em uma coletiva de imprensa Clementine Nkweta-Salami, coordenadora humanitária da ONU no país.
"Seguimos recebendo relatórios implacáveis e perversos de violência sexual e de gênero, de desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias e graves violações dos direitos humanos e das crianças", afirmou.
"O que está acontecendo beira o mal absoluto", avaliou a alta funcionária, que fez referência às crianças "presas no fogo cruzado" e às meninas estupradas diante das próprias mães.
Ela também expressou sua preocupação com os "inquietantes relatos de uma escalada da violência e de ataques contra civis, incluindo uma violência que parece estar baseada na origem étnica, na região de Darfur".
Quando perguntada sobre os riscos de que se repita o genocídio do início dos anos 2000 nessa região do oeste do Sudão, ela respondeu que estava "muito preocupada" com isso.
"Há vinte anos, o mundo ficou comovido com as atrocidades terríveis e violações dos direitos humanos em Darfur. Tememos que possa se desenvolver uma dinâmica similar", declarou, por sua vez, o titular do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, em um comunicado à imprensa.
"O cessar imediato dos combate e o respeito incondicional à população civil por todas as partes são essenciais para evitar uma nova catástrofe", disse.
- Acnur, alarmada -
Segundo o Acnur, nos próximos dias, "mais de 800 pessoas foram assassinadas pelos grupos armados em Ardamata, Darfur Ocidental, uma zona que até agora foi a menos afetada pelo conflito".
Em Ardamata, cerca de 100 abrigos para deslocados foram devastados, de acordo com a agência. Na mesma região houve muitos saques, especialmente de itens de ajuda da organização.
A agência se declarou profundamente alarmada com os relatos de violência sexual, tortura, assassinatos arbitrários, extorsão de civis e ataques a grupos étnicos, e pelos informes de que milhares de deslocados tiveram que fugir de um acampamento em Geneina.
A organização informou que "mais de 8.000 pessoas fugiram para o vizinho Chade só na última semana", embora possam ser mais, devido a uma possível subnotificação.
Desde 15 de abril, a guerra entre o comandante do Exército, general Abdel Fatah al Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (FSR, paramilitares) do general Mohamed Hamdan Daglo deixou mais de 9.000 mortos, segundo uma estimativa da ONG Armada Conflict Location & Event Data Project (Acled).
O conflito também destruiu a maior parte da infraestrutura e deslocou mais de 4,8 milhões de pessoas dentro do Sudão e 1,2 milhão para países vizinhos, segundo o Acnur.
A.Silveira--PC