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Pacifistas do kibutz Beeri em Israel minados pela desilusão
"Acreditava na paz com Gaza, mas estava equivocado", afirma, deitado em uma cama de hospital, Avida Bachar, morador do kibutz israelense de Beeri que perdeu a esposa e o filho no sangrento ataque do Hamas.
Bachar, que se define como um "homem de esquerda" teve que amputar uma perna depois que foi alvejado por comandos do Hamas, que atacaram seu kibutz na manhã de 7 de outubro.
"Devemos destruir o inimigo porque, caso contrário, nenhum futuro será possível", disse à AFP o convalescente, de cerca de 50 anos.
Agora ele considera soluções radicais para "erradicar" o movimento islamita palestino, apesar de acreditar durante anos que era possível assinar a paz com os vizinhos de Gaza.
Descartando possíveis negociações, considera que os israelenses foram vítimas do "mal absoluto" durante o ataque.
Do lado israelense, pelo menos 1.400 pessoas foram mortas desde o início da guerra, segundo as autoridades. A maioria era de civis que perderam a vida no dia do ataque do Hamas, de magnitude sem precedentes desde a criação do Estado de Israel em 1948. Entre os mortos estão mais de 300 soldados.
A comunidade agrícola de Beeri está localizada a 4 quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza e foi cenário de um dos piores massacres cometidos em solo israelense: 85 dos seus habitantes foram mortos e outros 30 estão supostamente mantidos como reféns ou desaparecidos.
-"Ruptura"-
Fundada em 1946, a localidade tem fama de ser um reduto da esquerda israelense, que ficou cada vez mais minoritária nos últimos anos.
Nas últimas eleições legislativas, em 2022, o Partido Trabalhista recebeu em Beeri mais de 35% dos votos (frente aos 3,6% que obteve a nível nacional) e o partido de extrema esquerda Meretz, 16,4%.
Outra sobrevivente do massacre, Inbal Reich-Alon, 58 anos, menciona uma "ruptura".
"Me dói dizer isto porque sempre pensei que havia crianças, mulheres e pessoas que também queriam viver em paz, e talvez ainda haja, mas há mais pessoas que não nos querem vivos", declara a mulher, filha de fundadores do kibutz e que se define como uma "pacifista".
O mesmo pensa Alon Pauker, 57 anos, um dos líderes da comunidade que, embora diga "sofrer por cada criança morta em Gaza", não aceita que o Hamas tenha "assassinado nossas crianças, nossas mulheres, nossos idosos e nossos homens" apenas pelo prazer de matar.
Segundo ele, o movimento islamita "não descansará até que tenha assassinado todos os israelenses ou destruído o Estado de Israel".
- "Triste e irritado" -
Porém, ainda há os que querem acreditar, como Yonatan Zeigen, filho de Vivian Silver, uma ativista pacifista israelense-canadense de 74 anos que está desaparecida desde o ataque.
"Ela defende ideias justas... Mantenho minha postura: a única maneira de viver seguro é em paz", assegura Zeigen, que foi criado em Beeri mas vive em Tel Aviv.
Em 7 de outubro, falava com a mãe no telefone quando os disparos começaram. Segundo a mulher, homens armados do Hamas entraram em sua casa. Desde então, não soube mais dela.
Como muitos familiares de reféns, Zeigen exige que o governo israelense negocie a sua libertação sem demora, "a qualquer preço".
Segundo um relatório das autoridades israelenses divulgado na quarta-feira, 239 pessoas foram sequestradas e estão detidas em Gaza.
Mais de 10.500 pessoas, a maioria civis, incluindo pelo menos 4.300 crianças, morreram em bombardeios israelenses em Gaza, segundo um relatório divulgado pelo Ministério do Hamas.
Apesar de estar "triste e irritado", Yonatan Zeigen insiste em "confiar no futuro porque há pessoas de ambas as cidades que querem simplesmente viver e se realizar".
L.Carrico--PC