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Em Gaza, palestinos com dupla nacionalidade aguardam fuga para o Egito
Dezenas de palestinos com dupla nacionalidade aguardavam, nesta sexta-feira (20), a abertura do ponto de passagem de Rafah, a única saída da Faixa de Gaza que não é controlada por Israel e que liga o enclave ao Egito.
Sujeito a um bloqueio quase total, o pequeno enclave palestino tem sido bombardeado incansavelmente por Israel desde que o movimento islamita Hamas, que governa a Faixa, realizou um ataque sangrento em território israelense, em 7 de outubro.
"Na embaixada nos disseram para irmos até o ponto de passagem. Estamos dormindo aqui, apesar do perigo", explicou Mahmud Musallam, de 29 anos, que tem nacionalidade sueca.
Ele faz parte de um grupo de várias dezenas de palestinos com dupla nacionalidade que, com passaporte em mãos, reuniram-se na cafeteria do terminal, várias vezes bombardeado por Israel.
Junto com ele, sua filha de sete anos, Ghazal, disse que quer ir para a Suécia, "porque todas as crianças morrem aqui".
Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, obteve a permissão de Israel para que caminhões com ajuda humanitária entrassem no enclave, com a condição de que haja garantias de que esta ajuda não chegará aos combatentes do Hamas, alertaram os israelenses.
- "Nada para beber" -
O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve nesta sexta-feira na parte egípcia do terminal de Rafah e pediu que os caminhões possam entrar de forma mais rápida no território palestino, porque "representam a diferença entre a vida e a morte para muitas pessoas em Gaza".
Na manhã desta sexta, as portas pareciam se abrir quando uma fonte de segurança egípcia disse à AFP que os blocos de concreto, instalados pelas autoridades egípcias após os bombardeios israelenses na fronteira, haviam sido removidos.
Pouco depois, no entanto, a ONU informou que a ajuda humanitária não conseguiria entrar em Gaza antes de sábado, desferindo um golpe nas esperanças de Mussalam e de outras pessoas com dupla nacionalidade de conseguirem atravessar a fronteira na outra direção.
"O Ministério das Relações Exteriores da Holanda nos disse que era possível [ir] para o aeroporto Ben Gurion", perto de Tel Aviv, em Israel, disse Mahmud Al Attar, um holandês de 70 anos. "Mas como vamos?", questionou, desesperado.
"Não há outra passagem além de Rafah. Dormimos na rua. Não há comida, nada para beber. O que vamos fazer?", disse, enquanto aguarda com sua esposa e cinco filhos.
No enclave, uma das áreas mais densamente povoadas do planeta, onde vivem cerca de 2,4 milhões de palestinos, a situação é catastrófica, alertam as organizações humanitárias.
Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um milhão de pessoas tiveram de abandonar suas casas desde o início da guerra. Deste total, 600 mil se deslocaram para o sul do território, fugindo do norte.
O bloqueio israelense "limita gravemente o fornecimento de água, comida, combustível [essencial para o funcionamento de geradores de eletricidade em hospitais, por exemplo], medicamentos e material médico", alertou a OMS.
- Ajuda diária -
Para a organização, a autorização concedida por Israel para a entrada de apenas 20 caminhões, sem combustível, é insuficiente e alertou que Gaza precisa de ajuda diária.
A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas, que governa Gaza desde 2007, ao território israelense no dia 7 de outubro.
Chegando por mar e por terra, os comandos do movimento islamita palestino mataram mais de 1.400 pessoas. Segundo as autoridades israelenses, a maioria das vítimas morreu no primeiro dia do ataque.
Na Faixa de Gaza, mais de 4.100 palestinos, a maioria civis, morreram em ataques aéreos lançados por Israel desde então, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
A.S.Diogo--PC