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O que se sabe dos dois grupos que reivindicaram a incursão armada na Rússia
Dois grupos armados, que dizem ser compostos por russos, assumiram, na segunda-fira (22), a responsabilidade pelo ataque à região de Belgorod a partir da Ucrânia, a incursão mais grave na Rússia desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.
Confira abaixo o que se sabe até o momento sobre ambas as organizações — o Corpo de Voluntários Russos e a Legião Liberdade para a Rússia —, que afirmaram ter agido de maneira coordenada.
- Figuras públicas -
O Corpo de Voluntários Russos (RDK) ficou mais conhecido em março, ao reivindicar a autoria de uma primeira incursão na Rússia na região fronteiriça de Bryansk. É dirigido por Denis Nikitin, uma figura da extrema direita russa que organizou lutas de artes marciais na Ucrânia e era dono de uma marca de roupas. É rotulado de "terrorista" pela Rússia.
Criada na primavera de 2022, a Legião Liberdade para a Rússia tem um punho cerrado como emblema. Também é considerada "terrorista" pelas autoridades russas. Seu líder político é o ex-deputado russo Ilia Ponomariov, o único a votar contra a anexação da Crimeia por parte de Moscou em 2014, e que depois se estabeleceu na Ucrânia.
Na cobertura do incidente, a imprensa ucraniana destacou um representante da Legião que atende pelo nome de "César".
A AFP conversou com ele em dezembro de 2022 no "front" oriental da Ucrânia. "César" afirmou que luta "contra o regime de (Vladimir) Putin" e se definiu como um patriota russo e um "nacionalista de direita". Disse, ainda, ser um fisioterapeuta natural de São Petersburgo.
O veículo investigativo russo Agentstvo identificou-o como um membro de longa data da órbita imperialista e nacionalista da extrema direita russa.
- Missões -
Os dois grupos afirmam contar com centenas de homens em suas fileiras e querem a queda do presidente Putin.
O Corpo de Voluntários diz estar envolvido em atividades de reconhecimento e sabotagem em território russo.
Um de seus combatentes, conhecido pelo pseudônimo de "Fortuna", disse à AFP em março que o Corpo coordena sua ação com o Exército ucraniano quando está em território ucraniano e age sozinho na Rússia.
Em uma entrevista ao veículo independente russo Sota, em abril, um representante do Corpo de Voluntários, Vladimir "Cardeal", afirmou que queria a criação de "um Estado nacional russo no território das regiões habitadas, majoritariamente, por pessoas de etnia russa".
A Legião se define, por sua vez, como um grupo de "partidários", cujo objetivo é construir "uma nova Rússia livre". Seu site indica que o grupo orquestrou ataques contra a infraestrutura militar e ferroviária russa.
Após a incursão a Belgorod, "César" declarou à televisão ucraniana que a amplitude das operações realizadas por ambas as organizações "aumentaria com o tempo".
- Equipamento -
Nenhum dos dois grupos revelou como, nem quem os financia. A Ucrânia também não disse nada sobre seus vínculos com essas duas organizações, cuja existência descreve como um problema "interno" da Rússia.
O ex-deputado Ponomariov disse à rádio britânica LBC esta semana, no entanto, que os ucranianos "nos ajudam a treinar nossas forças e nos fornecem o equipamento necessário".
Em sua conta no Twitter, a Legião informou que tem morteiros RT61 franceses.
No ataque à região de Belgorod, as autoridades russas disseram ter tido de fazer frente a disparos de morteiro, artilharia e drones.
- Reações russas -
O Kremlin reiterou, na segunda e na terça-feira (23), que os elementos com os quais tem de lidar são combatentes ucranianos, não insurgentes russos. Também acusou Kiev de ter planejado a operação para "desviar a atenção" de Bakhmut, cidade no leste da Ucrânia que diz ter conquistado.
Após o ataque a Belgorod, o líder do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgueni Prigozhin, denunciou o fracasso do Estado russo.
"Não há governo, não há vontade, nem gente disposta a defender seu país", criticou Prigozhin, dirigindo-se àqueles que "sugam dinheiro", em vez de "garantir a segurança do Estado".
O canal do Telegram "Rybar", que comenta os acontecimentos relacionados com o conflito e tem mais de um milhão de seguidores, considerou que, com esta operação, Kiev quis "semear o pânico" na Rússia.
A.Magalhes--PC