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Ex-paramilitar narra horrores da guerra na Colômbia em busca de benefícios na Justiça
O ex-comandante paramilitar Salvatore Mancuso, recluso em uma prisão dos Estados Unidos, compareceu nesta quarta-feira (10) perante o tribunal de paz na Colômbia, para contar o que sabe sobre os esquadrões sangrentos de extrema direita que comandou durante o conflito armado, com o objetivo de obter benefícios perante a Justiça.
Durante quatro dias e por videoconferência, o ex-comandante terá que "mostrar que agiu como ponto de conexão entre os paramilitares e a força pública", informou a Jurisdição Especial para a Paz (JEP), que surgiu do pacto histórico com a guerrilha das Farc em 2016, encarregada de investigar os piores crimes do conflito interno.
"Fui recrutado, armado e treinado pelas forças armadas. Sou filho direto delas", disse o ex-paramilitar, perante um grupo de vítimas e três magistrados que o ouviam desde o departamento de Córdoba (norte), seu principal centro de operações nos anos de 1990.
Apenas se Mancuso ampliar a versão que dá há quase duas décadas a JEP irá considerar a possibilidade de receber seu caso e lhe conceder os benefícios que esta Justiça especial contempla, como penas alternativas à prisão para aqueles que contarem a verdade e fizerem reparações às vítimas.
Após depor as armas em 2006, como parte de um acordo de paz com o então presidente Álvaro Uribe (2002-2010), o ex-paramilitar ítalo-colombiano foi entregue às autoridades dos Estados Unidos, onde foi condenado a mais de 15 anos de prisão por tráfico de drogas.
Em sua versão desta quarta-feira, Mancuso afirmou que seu exército contava com a colaboração total de todas as instituições de segurança do Estado, empresas, fazendeiros e políticos, como Francisco Santos, ex-vice-presidente da Colômbia e primo do ganhador do Nobel e ex-presidente Juan Manuel Santos ( 2010-2018).
O presidente esquerdista Gustavo Petro, que, em seu passado como congressista, revelou as ligações entre os paramilitares e a política, reagiu ao comparecimento de Mancuso: “O paramilitarismo nada mais foi do que uma aliança do narcotráfico com boa parte do poder político e econômico da Colômbia e um setor da imprensa tradicional para desencadear um genocídio sobre o povo”, publicou em sua conta no Twitter, @petrogustavo.
Mancuso, 58, conduziu em 2006 o processo de desmobilização de cerca de 30.000 paramilitares, responsáveis por mais de 94.000 mortes durante a longa guerra interna da Colômbia, segundo o Centro de Memória Histórica.
As audiências continuarão em 11, 15 e 16 de maio. Em seguida, a JEP irá verificar as informações, para determinar se Mancuso poderá recorrer ao tribunal de paz.
J.Oliveira--PC