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Secretário da ONU chega ao Sudão em meio aos combates
O secretário de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, chegou ao Sudão nesta quarta-feira (3) e exigiu garantias para prestar ajuda a milhões de civis envolvidos no conflito, em meio a intensos combates, apesar de uma trégua acordada.
O exército e os paramilitares se acusam mutuamente de ignorar a trégua que, segundo especialistas, deveria permitir retiradas seguras de civis e continuar as negociações indiretas no exterior.
Uma testemunha disse à AFP que "confrontos e explosões foram ouvidos ao redor da televisão pública" nos arredores de Cartum, a capital. "Aviões militares sobrevoam" a cidade, explicou outro morador.
A cerca de 850 quilômetros a leste de Cartum, o secretário-geral adjunto da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, chegou a Port Sudan, uma cidade costeira onde não há combates.
"Cheguei a Port Sudan para reafirmar o compromisso da ONU com o povo sudanês", tuitou, em um momento em que a ajuda humanitária chega lentamente ao país, um dos mais pobres do mundo.
Griffiths exigiu que as partes envolvidas nos combates se comprometam, ao mais alto nível e publicamente, a garantir a segurança da entrega da ajuda humanitária.
"Esses compromissos são uma condição prévia para uma ação humanitária em grande escala", disse ele.
Com a chegada das primeiras entregas, seis caminhões foram saqueados nesta quarta-feira a caminho de Darfur (oeste), onde ocorrem os piores combates. Segundo a ONU, na semana passada houve uma centena de mortos nesta região.
Em meio a essa situação caótica, três trabalhadores humanitários da ONU morreram e suprimentos humanitários, incluindo os de agências e hospitais da ONU, foram saqueados.
- "Acordo de princípio" -
O Sudão do Sul anunciou "um acordo de princípio" para prolongar a trégua, de 4 a 11 de maio, entre o chefe do exército, Abdel Fatah al Burhan, e seu ex-número dois, Mohamed Hamdan Daglo, à frente dos paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), que se enfrentam desde 15 de abril.
Nenhuma das partes comentou este anúncio.
As FAR divulgaram esta semana imagens de seus homens brandindo armas no pátio do palácio presidencial.
A Arábia Saudita, mediadora do conflito, denunciou nesta quarta-feira um ataque e saque por "um grupo armado" em seu escritório cultural em Cartum.
Os combates, especialmente em Cartum e Darfur, deixaram mais de 550 mortos e milhares de feridos, segundo o último balanço.
Mais de 330 mil pessoas tiveram que fugir e, segundo a ONU, outras 100 mil se refugiaram em países vizinhos.
Os países que fazem fronteira com o Sudão temem as repercussões do conflito.
O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sissi, acredita que "toda a região pode ser afetada".
"Estamos fazendo tudo o que é possível para que as negociações ocorram", disse ao jornal japonês The Asahi Shimbun, à margem da visita do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ao Cairo.
Segundo o presidente, seu país já abriga "milhões de sudaneses" e outros refugiados.
Em Cartum, os habitantes enfrentam condições severas, com escassez de água e alimentos e cortes de eletricidade, uma "catástrofe", segundo a ONU. Os estrangeiros continuam sendo retirados, principalmente através de Port Sudan.
- "Pressão estratégica" -
No nível diplomático, o Sudão do Sul não é o único intermediário. O enviado da ONU para o Sudão, Volker Perthes, disse que os dois generais disseram estar dispostos a "iniciar negociações técnicas" para um cessar-fogo, provavelmente na Arábia Saudita.
Os dois generais, agora em confronto, deram um golpe de Estado juntos em 2021 para expulsar os civis com quem dividiam o poder após a queda do ditador Omar al Bashir dois anos antes. Mas eles não concordaram com a integração das FAR ao exército.
Um enviado do general Burhan viajou para Riad e Cairo nos últimos dias.
A União Africana (UA) exortou a evitar "uma ação dispersa" que impeça uma "retomada do processo político".
Para Ernst Jan Hogendoorn, especialista em Sudão do Atlantic Council, a comunidade internacional deve "pressionar de forma estratégica", bloqueando as contas bancárias e as atividades comerciais dos beligerantes, para reduzir as suas capacidades de "combate e reabastecimento".
M.Carneiro--PC