Portugal Colonial - Conflito na Ucrânia agrava a crise demográfica na Rússia

Conflito na Ucrânia agrava a crise demográfica na Rússia
Conflito na Ucrânia agrava a crise demográfica na Rússia / foto: Mikhail Metzel - SPUTNIK/AFP

Conflito na Ucrânia agrava a crise demográfica na Rússia

A ofensiva russa na Ucrânia agravou a prolongada crise demográfica na Rússia, uma tendência estrutural que pode prejudicar ainda mais uma economia afetada por sanções.

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Em um país que já sofre com uma escassa mão de obra devido a taxas de natalidade persistentemente baixas, o conflito acrescenta uma série de desafios que podem se manter por anos.

A mobilização de centenas de milhares de homens os retirou do mercado de trabalho, ao mesmo tempo que forçou habitantes com melhor formação a fugir do país.

"Faltam trabalhadores na Rússia", afirmou à AFP Alexei Rashka, um demógrafo que antes trabalhava para a agência oficial de estatísticas Rosstat.

"É um antigo problema, mas tem se agravado devido à mobilização e às saídas em massa", apontou.

Após o colapso da União Soviética nos anos 1990, a Rússia herdou suas baixas taxas de natalidade causadas por dificuldades econômicas e incertezas sobre o futuro do país.

O presidente russo Vladimir Putin tentou encorajar as famílias a terem filhos, mencionando "os valores tradicionais" como uma forma de resolver o que observa como uma crise existencial.

Como parte desta estratégia para aumentar a população, implantou um auxílio financeiro para as famílias a partir do segundo filho e os seguintes.

- Já afetada pela covid -

As autoridades russas não informam números sobre baixas em suas tropas na Ucrânia desde setembro de 2022, quando o Ministério da Defesa anunciou 5.937 mortes.

O países ocidentais estimam 150.000 mortos e feridos de cado lado.

"Não sabemos as perdas exatas da operação militar, mas 300.000 pessoas foram mobilizadas, o que reduz ainda mais o número de jovens trabalhando", afirmou Natalia Zubarevich, especialista da Universidade Estatal de Moscou.

Estas baixas no campo de batalha se somam às da mortal pandemia de covid, que "afetou duramente a Rússia", indicou à AFP Igor Yefremov, especialista em demografia.

A estatística oficial contabiliza cerca de 400.000 vítimas do coronavírus na Rússia, mas analistas acreditam que o balanço real é muito superior.

Ante o volume minguante da força de trabalho, a reduzida taxa de desemprego de 3,5% na Rússia nem mesmo representa um bom sinal, mas o reflexo de uma escassez de contratações e das dificuldades de vários setores para cobrir postos vagos.

Uma pesquisa publicada em 19 de abril pelo Banco Central da Rússia confirmou tensões "graves", particularmente "nas indústrias de processamento", transporte e "fornecimento de água".

- Duas ondas de emigração -

Um estudo publicado no mês passado pela Escola de Economia indicou que a Rússia necessitará entre 390.000 e 1,1 milhão de imigrantes por ano até o final do século para evitar um declínio de sua população.

No entanto, alguns setores não poderão compensar a perda de trabalhadores, especialmente indústrias que requerem altos níveis de formação.

Rashka explicou que o conflito na Ucrânia provocou duas ondas de emigração e ambas com "muita gente altamente qualificada, incluindo especialistas em informática e tecnologia", saindo da Rússia.

Este especialista estimou que cerca de 150.000 pessoas, incluindo 100.000 homens, deixaram o país entre fevereiro e março de 2022, semanas depois da eclosão do conflito.

Outros meio milhão de russos teriam saído após a mobilização anunciada por Putin em setembro, acrescentou.

Uma lei recente impôs restrições econômicas àqueles que se esquivarem do serviço militar, o que pode incentivar os que fugiram a se estabelecerem definitivamente no exterior.

Ainda assim, Zubarevich afirmou que mais de 60% daqueles que partiram continuam trabalhando remotamente para empresas russas. "Alguns deles vão voltar", assegurou.

J.Pereira--PC