Portugal Colonial - Greve em departamento boliviano contra suposta manipulação de censo demográfico

Greve em departamento boliviano contra suposta manipulação de censo demográfico

Greve em departamento boliviano contra suposta manipulação de censo demográfico

Santa Cruz, a capital econômica da Bolívia, interrompeu nesta sexta-feira (6) grande parte de suas atividades em protesto contra um recente censo, que, segundo líderes da oposição, teria sido manipulado pelo governo para reduzir a população e, assim, os recursos e a representação legislativa.

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A greve de 24 horas foi convocada pelo comitê cívico do departamento de Santa Cruz, que reúne sindicatos e outras forças de oposição ao Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de esquerda no poder, liderado pelo presidente Luis Arce e pelo ex-presidente Evo Morales (2006-2019).

"Este é um protesto de consciência", disse à AFP María Paula Toledo, acompanhada de outras mulheres que marcharam contra a suposta manipulação dos dados do censo pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) em "conluio com o governo".

"[O censo] vai afetar todos nós na distribuição de recursos e de cadeiras parlamentares", acrescentou a engenheira civil de 49 anos e integrante do comitê.

Com 1,6 milhão de habitantes, de acordo com o censo realizado em março, Santa Cruz, capital do departamento e principal reduto da oposição boliviana, aderiu à greve: as ruas ficaram vazias, o tráfego foi escasso e muitos comércios não abriram as portas.

Em vários pontos, manifestantes bloquearam avenidas com pneus e cordas. Também não houve movimento no terminal de transportes. Já o setor bancário e a administração pública funcionaram com relativa normalidade.

A greve foi "contundente" e "as pessoas, como esperado, permaneceram em suas casas, de maneira cívica", afirmou Fernando Larach, presidente do Comitê Cívico.

As autoridades não relataram incidentes, apesar de militantes do MAS terem avisado mais cedo que sairiam para desbloquear as vias.

- Revisão dos dados -

As forças opositoras de Santa Cruz denunciaram em um comunicado que o governo, a pedido do INE, fraudou o censo para subtrair centenas de milhares de habitantes desse departamento e privá-lo do "justo e equitativo acesso aos recursos fiscais" e da "correta redistribuição das cadeiras parlamentares".

De acordo com o censo, a Bolívia alcançou este ano pouco mais de 11,3 milhões de habitantes, um aumento de 12,45% em relação ao censo de 2012.

Um total de 3.115.386 pessoas (27,5% dos bolivianos) vivem em Santa Cruz, que pela primeira vez superou La Paz como o departamento mais populoso.

Os organizadores do protesto afirmam, no entanto, que os dados foram manipulados e estão abaixo das projeções feitas pelo próprio INE.

O censo é utilizado como referência para alocação de recursos estatais e distribuição das cadeiras no Legislativo, que se prepara para as eleições gerais de 2025.

Prefeituras e departamentos controlados pela oposição também expressaram críticas ao censo e solicitaram uma auditoria internacional.

O presidente do Comitê Cívico anunciou nesta sexta-feira a formação de uma comissão interinstitucional para revisar os dados oficiais. Essa comissão será composta pelo comitê, universidade estadual, prefeitura da cidade e governo regional.

"A partir de segunda-feira, essa comissão será reativada. Solicitamos informações ao INE para trabalhar com os dados deles, para desenvolver os estudos técnicos necessários e para provar que houve fraude", apontou.

O presidente Arce, por sua vez, afirmou nas redes sociais que a autoridade estatística, com "sólido respaldo técnico", realizou o "censo mais moderno, participativo e transparente" da "história da Bolívia".

M.Gameiro--PC