Portugal Colonial - Decreto que descreve transexualidade como 'transtorno mental' provoca protesto no Peru

Decreto que descreve transexualidade como 'transtorno mental' provoca protesto no Peru

Decreto que descreve transexualidade como 'transtorno mental' provoca protesto no Peru

"Não somos doentes mentais". Dezenas de ativistas LGBTQIAPN+ se reuniram sob este lema para protestar, nesta sexta-feira (17), contra um decreto do governo peruano que cataloga a transexualidade como um "transtorno mental".

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O decreto que causou revolta nas organizações que defendem a diversidade sexual incorpora uma classificação antiga da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"É um decreto que nos faz retroceder mais de três décadas, quando a homossexualidade deixou de ser catalogada pela OMS. Não podemos viver em um país onde nos consideram doentes", disse à AFP Jorge Apolaya, porta-voz do Coletivo Marcha do Orgulho Lima.

Cerca de 200 manifestantes se reuniram em frente à sede do Ministério da Saúde, em Lima, para rechaçar a decisão do governo de manter o decreto apesar dos protestos, que coincidiram com o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.

"É uma norma que nos violenta [...] Estão nos colocando como pessoas doentes, como se tivéssemos um problema e a identidade de gênero é o contrário disso", disse Áfrika Nakamura, comunicadora audiovisual de 25 anos.

Sob lemas como "Não é uma doença, é diversidade!" e "Somos trans e não somos doentes, aqui está a resistência trans", os manifestantes bloquearam por algumas horas a movimentada avenida do centro da capital onde fica o ministério, sem que tenham sido registrados confrontos com a polícia.

"Exigimos a revogação [do decreto] porque estigmatiza as identidades transgênero", disse a diretora da associação TRANSformar, Maju Carrión. "Não podemos ser catalogados como doentes mentais, por isso é importante uma lei de identidade de gênero", acrescentou Micaela Casa, do coletivo Assembleia Migrantes e Refugiados da Pátria Grande.

- 'Interpretação errônea' -

Um porta-voz do Ministério da Saúde alegou que a anulação do decreto impediria que os afiliados ao sistema de saúde, principalmente o privado, tenham acesso a mais serviços de saúde mental. "O decreto será mantido, porque não podemos tirar o direito ao atendimento", disse à AFP Carlos Alvarado, diretor do ministério.

Segundo o porta-voz oficial, "houve uma má leitura e interpretação errônea" do decreto. A transexualidade "não é um problema de saúde mental e concordamos com isso, a tal ponto que existem vários documentos ministeriais que o especificam", disse Alvarado.

O decreto atualiza o Plano Essencial de Saúde (PEAS), lista de benefícios mínimos a que tem direito um afiliado da saúde pública, mista ou particular. Porém, usou uma classificação antiga da OMS, conhecida como CID-10, com a descrição que colocava os grupos LGBTQIPAN+ em alerta.

A partir de 2022, a organização deixou de caracterizar a transexualidade como um transtorno mental. Alvarado insistiu que a intenção do governo era expandir os cuidados de saúde mental para tratamentos ambulatoriais, psiquiátricos e endocrinológicos derivados da identidade de gênero, que antes do decreto não eram cobertos, principalmente por planos particulares.

"A ideia é fazer a transição para a CID-11 o mais rápido possível", disse Alvarado, sem especificar se isso implicaria a emissão de um novo decreto posteriormente.

- Consequências -

Para os coletivos LGBTQIAPN+, enquanto a norma permanecer em vigor, seus membros estão expostos a "graves consequências", como as criticadas terapias de conversão, equiparadas pela ONU à tortura.

"Não devemos esquecer que as terapias reparadoras consistiam em tratamentos [como] eletrochoque, banhos de gelo", comentou o porta-voz do Coletivo Marcha do Orgulho de Lima.

O Peru não reconhece o casamento ou a união civil entre homossexuais, nem permite que pessoas trans incluam sua identidade de gênero em seus documentos.

Em um artigo publicado em seu site, a ONG Human Rights Watch (HRW) também chamou a atenção para os efeitos "deste decreto tendencioso e não científico".

"Patologizar oficialmente as pessoas LGBT [...] pode prejudicar seriamente os esforços para melhorar a proteção dos direitos baseados na orientação sexual e na identidade de gênero", alerta a organização.

T.Batista--PC