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Agricultores começam a cercar Paris antes de anúncios do governo
Os agricultores, que há oito dias protestam na França para denunciar uma situação econômica insustentável, paralisaram nesta sexta-feira (26) várias rodovias importantes e começaram a bloquear Paris, antes das esperadas respostas do governo às suas reivindicações.
A bordo de algumas centenas de tratores, os agricultores do sindicato majoritário FNSEA cumpriram sua ameaça e começaram a bloquear, esta tarde, as principais estradas ao redor da capital para pressionar o governo do presidente liberal Emmanuel Macron.
"Estaremos aqui até à meia-noite. Achamos que as medidas que serão anunciadas esta noite não estarão à altura da tarefa. Estamos poupando forças para os próximos meses", disse à AFP Nicolas Galpin, agricultor que participa do bloqueio da rodovia A6.
A ação começou horas antes de o primeiro-ministro de Gabriel Attal anunciar um "arsenal" de medidas para responder à indignação dos agricultores durante uma visita, nesta sexta, a uma exploração pecuária de Montastruc-de-Salies, no sul da França.
À espera desses anúncios, os agricultores já começaram a bloquear estradas, como a rodovia A1, que liga Paris ao norte da Europa, e ameaçam interromper a circulação nas principais vias do entorno da capital a partir desta tarde.
A determinação do mundo agrícola é firme.
"Nosso trabalho é cultivar e produzir alimentos, não incomodar as pessoas, mas hoje arriscamos nossa própria sobrevivência", disse o presidente da Câmara de Agricultura da região de Paris, Christophe Hillairet, à BFMTV.
Pela manhã, os protestos já tinham forçado o fechamento de uma importante rodovia que liga Paris ao norte da Europa e de quase 400 quilômetros de estradas no sul da França, entre a cidade de Lyon (leste) e a Espanha - algo "nunca visto", disse a concessionária Vinci Autoroutes.
Nos últimos dias, a revolta dos agricultores se traduziu em uma série de ações: bloqueio de estradas, esvaziamento de camiões com importações espanholas e marroquinas, despejo de estrume em frente às prefeituras, ataque a uma loja da rede McDonald's com um fardo de palha, entre outras.
E, nesta sexta-feira, incendiaram um edifício da Previdência social dos agricultores da MSA em Narbonne, no sul de França, e bloquearam o porto de Bayonne (sudoeste) e um depósito de petróleo na cidade portuária de Lorient (oeste).
- Pauta de reivindicações -
A agricultura é um setor culturalmente importante na sétima economia mundial, apesar de seu peso no Produto Interno Bruto (PIB) ter caído drasticamente de 18,1% em 1949, período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, para 2,1% em 2022, segundo dados oficiais.
As reivindicações dos agricultores são variadas, dependendo do sindicato que as faz, como ajuda financeira a setores em crise, como a avicultura, atingida pela gripe aviária; e redução do preço do diesel para uso agrícola e menos trâmites administrativos.
A União Europeia também está no centro das atenções do setor por sua estratégia de combate à mudança climática, que inclui medidas como um uso reduzido de pesticidas, e pelo impacto na agricultura de acordos comerciais, como o negociado há 20 anos com o Mercosul.
O primeiro sindicato agrícola francês, FNSEA, pediu uma moratória sobre a proibição de pesticidas, uma demanda que alarmou os ambientalistas. A Confederação Camponesa, a terceira, mira na remuneração e pede o fim dos acordos comerciais.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reconheceu, na quinta-feira (25), que a "atual crise da agricultura europeia" pode representar um "obstáculo" para a aprovação do acordo entre UE e Mercosul. O bloco sul-americano deseja, no entanto, firmá-lo o mais rápido possível.
Os protestos agrícolas, que também foram registrados na Polônia, na Alemanha e na Romênia, ocorrem a cerca de quatro meses das eleições para o Parlamento Europeu, uma instituição fundamental para definir os padrões ambientais do bloco. A extrema direita lidera as pesquisas na França.
H.Portela--PC