Portugal Colonial - Escândalo de acusações falsas nos Correios britânicos chega às urnas

Escândalo de acusações falsas nos Correios britânicos chega às urnas
Escândalo de acusações falsas nos Correios britânicos chega às urnas / foto: HENRY NICHOLLS - AFP

Escândalo de acusações falsas nos Correios britânicos chega às urnas

Após o escândalo das falsas acusações de roubo, uma ex-funcionária dos Correios Britânicos decidiu disputar as eleições legislativas para defender seus colegas.

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Yvonne Tracey, de 68 anos, quer concorrer nas urnas com uma proeminente figura da política britânica: o centrista Ed Davey, líder dos Liberais-Democratas, a terceira força política britânica atrás dos dois principais partidos - conservador e trabalhista.

A indignação cresceu no Reino Unido após a transmissão, no final de janeiro, de uma série dedicada ao escândalo, e esse deputado se encontrar no centro da tempestade por causa deste assunto.

Davey foi secretário de Estado responsável pela supervisão dos Correios entre 2010 e 2012. No início de sua gestão, recusou-se a se reunir com um ex-diretor de uma agência que liderou a denúncia do caso.

O ex-secretário de Estado se defendeu, garantindo que os responsáveis dos correios mentiram para ele sobre o software Horizon, origem dos erros contábeis que levaram centenas de diretores de agência a serem processados e condenados.

"Lamento profundamente que tenham mentido para mim dessa forma", defendeu-se Davey, dizendo-se abalado por ter sido enganado.

Para Yvonne Tracey, no entanto, "é inacreditável" que Ed Davey, que finalmente se reuniu com os diretores das agências, não tenha descoberto que algo estava errado. Por esse motivo, a ex-funcionária acredita que ele não analisou seriamente o que estava acontecendo.

"Diz que mentiram para ele. Para mim, isso não é suficiente", disse à AFP esta mulher, de 68 anos, que já é bisavó.

- Fazer algo -

Entre 1999 e 2015, mais de 700 diretores de agências foram injustamente condenados por roubo, ou falsificação de contas, devido a problemas de software. Muitos dos acusados entraram em depressão, ou ficaram arruinados. Alguns foram presos, e quatro se suicidaram.

A transmissão, no início de janeiro, da série "Mister Bates versus Post Office" ("Bates contra os Correios", em tradução livre), que expõe o escândalo, fez a opinião pública reagir.

A lembrança do caso enfureceu Yvonne Tracey, que trabalhava em uma agência dos correios em Londres, a ponto de começar a ter problemas para dormir.

"Acordava meu marido o tempo todo, e ele me aconselhou a fazer alguma coisa", lembra ela.

"Não estou fazendo isso para virar uma política, porque não sou, mas para que o assunto continue chamando a atenção do público e continue até que se faça Justiça", acrescenta.

Desde que anunciou sua intenção de concorrer no distrito eleitoral de Ed Davey nas legislativas previstas para este ano, Yvonne Tracey diz que tem sido inundada de mensagens de apoio e de ofertas de ajuda para sua campanha.

- Confiança perdida -

O produtor da série, Patrick Spence, acredita que o programa tenha despertado um sentimento de raiva pela falta de atenção das grandes empresas e dos políticos nesse tipo de caso.

"A opinião pública se deu conta de como as pessoas sofreram sem que ninguém tivesse sido responsabilizado por isso e acha que o assunto é escandaloso", comentou.

"O país disse 'chega'", acrescentou.

O tema segue atual.

As autoridades lançaram uma investigação pública para determinar se os funcionários da Fujitsu, o criador japonês do software, e dos Correios, sabiam que o Horizon era defeituoso, enquanto os diretores das agências estavam sendo processados.

O primeiro-ministro britânico, conservador Rishi Sunak, classificou-o como um dos piores erros judiciais da história do Reino Unido e prometeu indenizar "rapidamente" e anular todas as acusações judiciais existentes contra os ex-diretores.

Yvonne Tracey disse, por sua vez, estar determinada a continuar sua iniciativa de levar o caso às urnas e enfrentar Ed Davey, deputado de forma quase ininterrupta desde 1997.

"As coisas precisam mudar", conclui ela.

F.Cardoso--PC