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Kirchner afirma que falta encontrar 'idealizadores' de seu atentado
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner pediu, nesta quarta-feira (14), à Justiça que encontre os "idealizadores e financiadores" do atentado fracassado que ela sofreu em 1º de setembro de 2022, ao depor em um julgamento contra três acusados considerados por ela apenas "autores materiais".
"Temos sentados (no banco dos réus) os autores materiais, mas não os idealizadores e financiadores", reclamou Kirchner ante o tribunal onde comparecem o agressor, sua ex-mulher e o empregador de ambos como vendedores de doces de rua.
Kirchner, que era vice-presidente na época do ataque, respondeu a perguntas do Ministério Público e dos advogados das partes durante pouco mais de uma hora.
A ex-presidente (2007-2015) desabou ao se referir à forma como o ataque afetou seu dia a dia e o de sua família.
Com um rosário nas mãos, ela disse que após o incidente sua neta ficou "com medo de sair do quarto porque tinha medo de que a matassem", por isso teve que receber tratamento psicológico.
"Uma família que sofre isso tem consequências", observou.
Um grupo de apoiadores acompanhou na rua o comparecimento da ex-presidente aos tribunais federais da capital argentina.
Nas suas respostas, considerou também que nos meses anteriores ao ataque houve uma "escalada da violência" contra ela.
"Havia muita violência e curiosamente, aqueles que foram à porta da minha casa para me insultar desapareceram depois do ataque", comentou Kirchner, que na época estava sendo julgada em um caso de corrupção durante os seus mandatos anteriores.
O principal acusado do ataque é Fernando Sabag Montiel (37 anos), que apertou o gatilho da arma contra Kirchner, sem que ela efetivamente disparasse; sua ex-companheira Brenda Uliarte, acusada como coautora; e Nicolás Carrizo, empregador de ambos e identificado como "planejador".
- "Violência" -
"Havia violência simbólica e não tão simbólica em questões que tinham a ver inclusive com a minha condição de mulher", disse Kirchner ao mostrar ao tribunal capas de revistas com ilustrações ou desenhos mostrando-a crucificada ou com golpes no rosto, incluindo o jornal Clarín e a revista Noticias.
"Ninguém nunca disse nada sobre isso, eu era a primeira mulher eleita presidente, sofria esses ataques", disse Kirchner.
A ex-presidente afirmou que o ataque representou "uma ruptura no pacto democrático" estabelecido em 1983, no final da última ditadura (1976-83).
"Nunca pensei que pudesse haver um ataque à vida democrática, fui muito ingênua porque não percebi que houve uma mudança de época", disse ela.
O advogado de Kirchner, Marcos Aldazábal, disse à AFP após a audiência que o depoimento foi "muito importante" porque "deixou em evidência as deficiências que o Judiciário teve na investigação".
Aldazábal estimou que o julgamento durará "mais alguns meses" com audiências semanais.
O senador Oscar Parrilli, um dos colaboradores mais próximos da ex-presidente, disse à AFP que "o partido judicial (como se refere aos juízes) está tentando minimizar o fato, em cumplicidade com a mídia e grupos econômicos, tentando atribuir a culpa do ataque a Cristina".
- Atentado fracassado -
Na noite de 1º de setembro de 2022, o principal acusado Sabag Montiel disparou duas vezes o gatilho contra a cabeça da ex-presidente, sem conseguir disparar a arma.
Ele havia se camuflado entre os apoiadores que se reuniam diariamente em frente à sua casa para apoiá-la em um momento em que era alvo de um julgamento por corrupção, no qual foi condenada em primeira instância a seis anos de prisão.
Sabag foi capturado pelos apoiadores de Kirchner e depois entregue à polícia.
"Felizmente nunca vi a arma", disse Kirchner ao tribunal, explicando que soube do ocorrido mais tarde, quando viu as imagens na televisão. "Deus me protegeu lá também", disse ela.
Em depoimento anterior, o réu principal não demonstrou arrependimento.
A tentativa de homicídio foi "um ato de justiça", já que "a doutora Kirchner é corrupta, rouba e prejudica a sociedade", disse Sabag em 26 de junho, quando depôs no tribunal.
L.Torres--PC