Portugal Colonial - 'Dominação masculina' paira sobre julgamento de chileno acusado de homicídio na França

'Dominação masculina' paira sobre julgamento de chileno acusado de homicídio na França
'Dominação masculina' paira sobre julgamento de chileno acusado de homicídio na França / foto: Sébastien Bozon - AFP/Arquivos

'Dominação masculina' paira sobre julgamento de chileno acusado de homicídio na França

"É uma caricatura da dominação masculina", disse, nesta terça-feira (19), o procurador Étienne Manteaux ao chileno Nicolás Zepeda, julgado na França pelo homicídio, em 2016, de sua ex-namorada japonesa Narumi Kurosaki, cujo corpo nunca foi encontrado.

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"Minhas relações amorosas são relações normais", disse o réu, mais cedo, no início do intenso interrogatório de Manteaux, em uma sala lotada no Palácio da Justiça de Vesoul (leste de França).

Vestindo uma túnica preta, o representante do Ministério Público bombardeou Zepeda com perguntas durante duas horas.

Dos alegados "ciúmes", quando vivia com Narumi no Japão, onde ele a conheceu em 2014, às mensagens pedindo-lhe para bloquear amigos do sexo masculino nas redes sociais quando ela já vivia na França, o procurador denunciou "uma caricatura da dominação masculina".

A acusação destacou, em particular, uma mensagem em que Zepeda parece estabelecer cinco condições para salvar o relacionamento: "Você nunca criará problemas, nunca vai se irritar, nunca será má, nunca dirá palavrão, nunca negociará nada".

"Essa conversa surge de uma discussão, quando falamos sobre (...) como consertar algo [o relacionamento] que não está funcionando", havia explicado horas antes a Sylvie Galley, advogada da família de Kurosaki.

"A única coisa que vejo é a honra do macho ferido, a quem foi dito claramente que a relação havia acabado, o que ele não suporta", declarou o procurador, perante uma defesa que pediu ordem em diversas ocasiões.

Os comentários contundentes do representante do Ministério Público provocaram por vezes risos do público presente, aos quais reagiu com irritação: "Por favor, não estamos em um teatro", advertiu.

- "Eu não a matei" -

Nicolás Zepeda, de 33 anos, pode ser condenado à prisão perpétua neste julgamento de recurso. Em primeira instância, a sentença, da qual recorreu, impôs 28 anos de prisão pelo assassinato premeditado de Kurosaki, o que ele nega.

Segundo a acusação, o chileno atravessou o Atlântico para ver a jovem dois meses após o rompimento. Ele a teria matado na madrugada de 5 de dezembro de 2016, asfixiando-a, ou estrangulando-a, antes de se livrar do corpo.

No interrogatório, os advogados dos demandantes também tentaram demonstrar uma relação de dominação que teria levado a um homicídio, especialmente quando, na véspera, o réu evocava uma relação baseada no "respeito".

Sua versão é "disneylandizada", disse à imprensa Randall Schwerdorffer, advogado de Arthur del Picollo, namorado de Kurosaki na época de seu desaparecimento.

"Ele se atreve a tudo, não tem limites", porque "tenta salvar sua pele".

Sylvie Galley relatou, ainda, que, em uma mensagem, a jovem repreende Zepeda por tê-la engravidado sem assumir.

"Você fez mal ao meu corpo, tirou muito dinheiro de mim, tirou meu futuro filho de mim", leu a advogada.

"Ela nunca esteve grávida", disse o acusado, para quem Kurosaki, a quem teria acompanhado ao médico no Japão porque ela estaria preocupada com o atraso da menstruação, enviou-lhe aquela mensagem em um contexto de forte discussão.

Sobre sua relação, o acusado defendeu que ambos tinham "ciúmes", "como todo mundo", mas que ele a "apoiou" quando ela decidiu ir para França estudar por um ano e que chorou de alegria ao vê-lo aparecer em Besançon.

"Eu não a matei, eu não a matei!", reiterou Zepeda entre lágrimas durante o interrogatório da defesa, expressando sua "indignação" pelo fato de a investigação ter-se concentrado apenas nele e não ter explorado outras pistas.

O veredicto é esperado para quinta-feira (21).

V.Fontes--PC