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Líder da Igreja Protestante alemã renuncia, suspeita de acobertar abusos sexuais
A líder da Igreja Protestante alemã, Annette Kurschus, suspeita de acobertar casos de abusos sexuais, anunciou nesta segunda-feira (20) a sua renúncia "para evitar danos" à instituição.
Segundo o jornal alemão Siegener Zeitung, Kurschus foi informada na década de 1990 sobre acusações de abusos contra um ex-colega do distrito eclesiástico de Siegen, mas não tomou nenhuma medida.
O homem está sendo investigado pela polícia.
A teóloga, de 60 anos, negou ter conhecimento dos abusos, mas afirmou que decidiu renunciar "para evitar que (a imagem da) sua Igreja fosse prejudicada".
"As suspeitas recaem sobre um homem de cuja família sou amiga há muito tempo", declarou durante uma coletiva de imprensa em Bielefeld (norte).
Kurschus indicou que sabia "da homossexualidade" do acusado, que é casado com uma mulher, e estava ciente "das suas infidelidades". Ela acrescentou que tentou proteger a família, mas foi criticada pela "falta de transparência".
"É ainda mais amargo porque nunca, e enfatizo, nunca tive a intenção de fugir à minha responsabilidade, ocultar fatos importantes, encobrir fatos ou mesmo encobrir uma pessoa acusada", insistiu.
"Eu gostaria, há 25 anos, de estar tão atenta, formada e sensível aos problemas comportamentais que hoje chamariam a minha atenção", acrescentou.
Na época dos fatos, Kurschus era pastora em Siegen. Segundo o jornal local Siegener Zeitung, uma vítima e outras três pessoas informaram-na das acusações contra o religioso que trabalhava no mesmo local.
- Redução do número de fiéis -
Annette Kurschus é a segunda mulher a ocupar o cargo de líder da Igreja Protestante alemã. A presidente do sínodo da Igreja Protestante alemã, Anna-Nicole Heinrich, recebeu sua renúncia "com respeito".
"Isso mostra a importância que, dentro da Igreja Protestante, é dada às ações contra a violência sexual", afirmou.
Com 20 milhões de fiéis, a Igreja Protestante representa a segunda confissão na Alemanha, atrás dos católicos (cerca de 22 milhões).
Ambas enfrentam há anos um declínio no número de fiéis.
A Igreja Católica enfrenta há anos várias denúncias de abuso sexual, mas Protestante foi pouco afetada até agora.
Um estudo encomendado pela Conferência Episcopal Alemã em 2018 concluiu que 1.670 clérigos católicos no país cometeram algum tipo de agressão sexual a 3.677 menores entre 1946 e 2014, embora se acredite que o número real de vítimas seja muito maior.
As indenizações da Igreja Católica para as vítimas de abusos na Alemanha aumentou de 5.000 euros para até 50.000 (54.600 dólares ou 203.707 reais na cotação da época) em 2020, mas os ativistas dizem que a quantia continua insuficiente.
Pagamentos no valor de 28 milhões de euros (30,5 milhões de dólares 148,9 milhões de reais na cotação atual) foram aprovados só no ano passado.
O presidente da assembleia dos arcebispos alemães, Georg Batzing, lamentou a renúncia de Annette Kurschus. Sem querer nem poder julgar as razões desta renúncia, considerou que "o ecumenismo na Alemanha perde um motor essencial".
A.Aguiar--PC